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Veja dicas para comer, beber e se divertir com pouco dinheiro em Nova Orleans

Seth Kugel

New York Times Syndicate

12/02/2013 08h15

Essa prometia ser a minha missão frugal mais fácil até hoje: cinco dias num paraíso com comida barata, bebida mais barata ainda e música de graça numa cidade que incentiva a caminhada e a pedalada: Nova Orleans. A regra autoimposta de não gastar um centavo no Bairro Francês também facilitou, mesmo durante a agitação do Super Bowl, que acontece em três de fevereiro, e do Mardi Gras, no dia 12.

Entretanto, logo percebi que seria meio complicado: depois de mais de sete anos da passagem do furacão Katrina, a cidade está cheia de bairros animados, cheios de vida, todos oferecendo inúmeras atividades baratas e interessantes. Fiquei no Lookout Inn, um hotelzinho simpático em Bywater, a um pulinho do Bairro Francês. Usando bicicleta e depois carro (choveu quase o tempo todo que estive lá), descobri que é bem fácil se movimentar; difícil ia ser me encaixar em tanta atividade. Meus dias ganharam um ritmo agitado, corrido – começando com um prato de beignets de US$ 2 em City Park antes de sair correndo para bebericar um Martini de US$ 0,25 durante o almoço em Garden District para depois ouvir música da melhor qualidade, de graça, tocada por um trombonista famoso em Marigny.

Talvez seja melhor selecionar os meus programas favoritos em três categorias nas quais Nova Orleans é excelente: música, comida e cultura local.

Música

Jamais pensei que, numa cidade de músicos lendários, a protagonista da minha viagem seria a rádio local, a WWOZ, que me foi recomendada assim que cheguei e que logo percebi ser onipresente: todo o comércio parecia estar sintonizado naquela frequência, além de ser a favorita de todos com quem conversei - e logo se tornou a minha também.

Eu poderia ter planejado meu itinerário noturno baseado na sua programação (que é lida no ar e está disponível também na Internet), mas já tinha pedido ajuda de Jay Mazza, um crítico de música que cobre Nova Orleans para o blog thevinyldistrict.com.

E já o primeiro conselho que ele me deu se mostrou valioso: pagar o couvert geralmente vale muito a pena. Para conferir um show logo na primeira noite, tive que desembolsar US$ 10, mas era um evento beneficente numa antiga igreja católica, caindo aos pedaços, no bairro de Irish Channel. O dinheiro, que seria usado na reforma do local, também me deu direito a três vales, a escolher entre cerveja, vinho ou coquetel de rum. No palco, Philip Melancon, acompanhado de um ukulele, cantou versões engraçadas de clássicos regionais, naquilo que só posso descrever como a versão católica local para o "borscht belt gestalt", as rodas de música judaica antiga. ("Ele conta quantas 'cabeças brancas' há no salão e toca as músicas dos tempos de outrora para elas", explicou uma mulher que se sentou perto de mim.)

Porém, o melhor show que vi não custou um centavo, naquela que deve ser a melhor "casa de espetáculos" de graça de Nova Orleans, a Three Muses, na Frenchmen Street, Seventh Ward, do lado do Bairro Francês. Por quê? É íntimo sem ser lotado. (Na porta, os funcionários não recebem o dinheiro do couvert, mas contam o número de pessoas para garantir que há sempre espaço suficiente para respirar.) O artista era Glen David Andrews, trombonista conhecido da maioria ali e dos fãs da série da HBO, "Treme", mas não meu. Usando um terno bege impecável, agitou a plateia com a mesma finesse com que tocou seu instrumento. A certa altura, ele disse, impassível: "Meu nome é Wynton Marsalis", arrancando risadas da plateia.

Virei para o cara ao meu lado e perguntei: "Quem é ele?". "O melhor instrumentista de Nova Orleans", ele me respondeu. "Por que então se apresenta de graça?". "Porque isto aqui é Nova Orleans." Na verdade, ao final do show eu já tinha gasto US$ 22 (bem aplicados, por sinal): US$ 5,50 (US$ 1,50 de gorjeta) por uma pale ale da Cervejaria NOLA e US$ 15 pelo CD de Andrews, "Live at Three Muses".

Aí veio o domingo, minha última noite na cidade. Comecei num boteco chamado Basin Street Lounge, onde o portador da tradição indígena do Mardi Gras, conhecido como Big Chief Darryl Montana, liderava a tribo Yellow Pocahontas num frenesi musical do ensaio para o Carnaval.

  • Seth Kugel/The New York ­Times

    O guitarrista de rhythm & blues e funk Walter "Wolfman" Washington se apresenta no Maple Leaf

Esses eventos, aliás, são difíceis de rastrear. Quem me avisou foi o Jay, mas geralmente ele aconselha o pessoal a perguntar nos clubes noturnos do Treme ou dar uma palavrinha com Sylvester Francis, curador e chefão do Backstreet Cultural Museum, também no Treme (falo mais sobre esse lugar incrível daqui a pouco).

Do Basin Street Lounge voltei ao Frenchmen Street, onde o Palmetto Bug Stompers ia tocar num bar chamado d.b.a. às oito. Como tinha acontecido uma festa particular antes, não só não cobraram o couvert, como o bufê (tamales de carne de porco, ensopado de frango e biscoitos de chocolate) era aberto. Jantar de graça!

A última parada foi em Uptown, no Maple Leaf, para ver o Joe Krown Trio com o guitarrista de rhythm & blues e funk Walter "Wolfman" Washington, que, segundo Jay, é "o último de sua geração".

Comida

Pableaux Johnson, crítico de gastronomia local, descreveu assim o cenário culinário de Nova Orleans: "Temos comida sensacional a US$ 3 ou a US$ 300".

No Maple Leaf, a música acabou sendo a atração secundária, pois me deparei com um clássico dos mais baratos. Pouco depois das dez, depois de pagar os US$ 8 do couvert, descobri dezenas de pessoas curvadas ao redor de uma longa fileira de mesas, descascando e comendo lagostim de graça. Era uma verdadeira festança – sem guardanapos – e entrei na dança.

Não resisti, embora aquela fosse a minha segunda refeição. A primeira foi no Big Fisherman Seafood, uma peixaria que também vende lagostim cozido a US$ 12 o quilo e tortinhas deliciosas a US$ 3 cada. Eu gastei US$ 9 e, como não havia lugar para sentar, pedi ajuda. "Atrás do Breaux Mart tem uma pracinha", disse o atendente, apontando o supermercado do outro lado da rua. "Vi que estavam colocando umas cadeiras lá hoje." Piquenique na hora do almoço.

Nem todas as minhas refeições baratinhas foram assim tão informais: tive que experimentar os beignets, aqueles bolinhos fritos cobertos de açúcar, mas não no Café du Monde, verdadeira instituição do Bairro Francês; em vez disso, fui de bicicleta até o City Park, na região norte da cidade, perto do Lago Pontchartrain, para visitar a nova filial do Morning Call, instituição do bairro vizinho, o Metairie. Por uma porção com três paguei US$ 2, e mais US$ 2 pelo "café au lait".

Mais classudo ainda foi o almoço no Commander's Palace, um salão de jantar elegante e tradicional que fica numa mansão de Garden District. Sim, é o tipo de lugar que eu ignoro, pois está em todos os guias e tem jeito de ser caro - mas não é e posso provar com uma única frase: "Martini a US$ 0,25".

Pableaux me acompanhou na refeição e me garantiu que a popularidade da casa é grande não só entre os turistas, mas entre os locais que adoram uma confraternização. O cardápio a preço fixo (US$ 16) inclui dois pratos tradicionais de Nova Orleans: sopa de tartaruga com xerez e "cochon de lait" à moda cajun, ou carne de porco defumada. Ele preferiu a opção de US$ 22 que dá direito a camarão e miúdos, além de tomar um drinque a mais que eu. Para os padrões de Nova Orleans, ele é um esbanjador.

  • Seth Kugel/The New York ­Times

    As casas históricas que pontilham Nova Orleans são uma atração à parte e podem ser apreciadas de graça. Na foto, casas da Espla­nade Stree­t

Cultura

As ruas são a melhor galeria que a cidade tem: fiquei particularmente intrigado com os sinais pintados à mão espalhados por todo lugar, além da arte popular das mensagens espirituosas ("Seja legal ou Vá embora") do famoso Dr. Bob e o belo trabalho à mostra no Mystic Blue Signs.

As casas históricas que pontilham Nova Orleans são uma atração à parte e podem ser apreciadas de graça – desde as construções coloridas e cheias de detalhes de Bywater até as versões "créole" do Treme, passando pelas sacadas elegantes do Bairro Francês. (Eu disse que não ia gastar lá e não que não ia visitar.)

Quem curte arte deve conferir o Ogden Museum of Southern Art, que visitei numa quinta-feira, às 18h, quando o ingresso comum de US$ 10 também dá acesso à apresentação semanal - e descobri o programa perfeito para queimar aqueles bolinhos do café no Museu de Arte de Nova Orleans: o Sculpture Garden cujo tema não é exatamente sulista, mas é de graça.

O Backstreet Cultural Museum é parada obrigatória: ali, o ingresso de US$ 8 dá acesso a uma coleção impressionante de roupas usadas pelos índios do Mardi Gras ao longo dos anos, além de respostas a todas as suas perguntas, seja graças às informações dispostas nas paredes, seja conversando com Sylvester Francis, o proprietário. Durante a minha visita, um aparelho de som na varanda tocava a interpretação de Celia Cruz para "Guantanamera". Era a WWOZ, interrompendo a programação de jazz para o programa semanal de música latina. "Não sou muito fã", disse Francis, "mas vai começar outro programa daqui a duas horas, então nem vale a pena mudar".

Se você for

O Lookout Inn (833 Poland Ave.; lookoutneworleans.com) é um lugar meio excêntrico em Bywater, onde, de acordo com o meu plano de evitar gastar no Bairro Francês, passei cinco noites e gastei US$ 370, já com taxa incluída. Embora três diárias durante a semana e duas no fim de semana saíssem por pouco mais de US$ 500, o recado que deixei na secretária, pedindo desconto, valeu a pena. Importante, porém, é saber que o Lookout Inn é uma semipousada – não há placa na porta e não vi um único funcionário. Peguei a chave no barzinho ao lado da piscina e a minha suíte Bollywood, decorada com um tapete de pele de leopardo e um dragão chinês (limpa uma única vez durante minha estadia, como fui avisado), se mostrou perfeita.