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Presente em três estados, Estrada Real reúne história, aventura e beleza no mesmo passeio

Juliana Guarany

Do UOL, em Ouro Preto (MG)

04/12/2012 08h03

Reunir, em um mesmo roteiro, turismo de aventura, com cachoeiras, trilhas e parques, numa paisagem incrível e ainda receber uma dose cavalar de história do Brasil não está em qualquer pacote turístico. É justamente esta exclusividade que faz da Estrada Real um dos passeios mais interessantes do país.

Os 1.600 km de estrada ganharam boa sinalização e referências em todo o trajeto. O asfalto se estende por 90% das vias. Há bons trechos que exigem espírito de aventura do motorista, mas brindam a chegada com cidadezinhas paradas no tempo, com suas igrejas e praças bem cuidadas, cheias de história. São ao todo 177 municípios, sendo 162 em Minas Gerais, oito no Rio de Janeiro e sete em São Paulo. Ouro Preto é o ponto central da viagem, mas há muitas outras surpresas.

Rota de transporte do ouro e diamantes de Minas Gerais para o litoral, a estrada começou a ser traçada por tropeiros e bandeirantes a partir do final do século 17. Com o aumento da busca por metais e pedras preciosas na região, o movimento se intensificou e a Coroa passou a taxar os que andavam por ali. Desta forma, o percurso ganhou o nome de Estrada Real.

O primeiro caminho servia para levar mercadorias a Parati. Em 1722 foi criado um novo percurso, que guiava para o Rio de Janeiro, parando em Magé, ao norte da baía da Guanabara. Hoje, as duas rotas são muito exploradas pelo turismo, assim como o caminho dos diamantes, que surgiu com a descoberta de pedras preciosas em Diamantina, no norte de Minas Gerais. Partindo de São Paulo, é possível chegar a Guaratinguetá, no início do Caminho Velho, pela rodovia Carvalho Pinto. A Rio-Santos também leva diretamente a Parati, pelo litoral. Pela Fernão Dias também se chega ao Caminho Velho em diversos pontos. O mais próximo seria em Campanha, pegando uma estrada estadual para Caxambu, no circuito da águas.

Um passeio por toda a sua extensão exige um mínimo de 15 dias de viagem bem aproveitados, com paradas pelas principais cidades da região e tempo para visitar igrejas, museus e cachoeiras. Melhor que isso é dividir a estrada em trechos e aproveitá-la em ocasiões diferentes, sem se cansar do passeio.

Caminho Velho - de Parati a Ouro Preto
A primeira estrada construída pela coroa para buscar o ouro de Vila Rica, nome antigo da cidade de Ouro Preto, se iniciava em Parati. O caminho segue por 38 cidades, entre elas Cunha, Guaratinguetá, Caxambu e Tiradentes. São 630 km de subidas pela Serra da Mantiqueira até alcançar o planalto mineiro.

Além do tremendo potencial histórico de cada uma delas, há o Circuito das Águas, no sul mineiro, com cachoeiras e estâncias hidrominerais. Trechos asfaltados se mesclam com estradas de terra. Atenção para o início do trajeto, entre Parati e Cunha, onde a via pode estar interditada para carros.

  • Divulgação/Instituto Estrada Real

    Igreja de São Francisco de Assis, de 1766, em Ouro Preto, uma das mais importantes da cidade

Caminho Novo - do Rio de Janeiro a Ouro Preto
A alternativa ao Caminho Velho surgiu em 1698 e efetivamente se tornou estrada entre 1722 e 1725. O Caminho Novo começa na cidade de Magé (RJ), na baía da Guanabara, seguindo em direção às minas. Ele surgiu como um atalho entre a capital fluminense e as cidades mineiras, encurtando o caminho para 515 km.

A estrada subia por Petrópolis, passando por cidades como Itaipava, Juiz de Fora e Barbacena até atingir Ouro Preto. O trecho da Serra dos Órgãos, perto de Petrópolis, guarda muito da história do Brasil quando ainda havia monarquia. Já em Minas, a inconfidência mineira está muito presente. O Parque Estadual do Ibitipoca, em Lima Duarte (MG), é um dos melhores pontos de ecoturismo da região, com cavernas, piscinas naturais e trilhas.

Caminho dos Diamantes - de Ouro Preto a Diamantina
A partir do século 18, quando se descobriu jazidas de diamante na cidade de Diamantina, mais um trecho da Estrada Real foi construído partindo de Ouro Preto. São 50 cidades espalhadas pelos 350 km de cerrado mineiro, passando pelas Serras do Cipó e do Espinhaço e chegando ao Arraial do Tijuco, antigo nome de Diamantina.

Neste trecho, é possível encontrar pontes e partes do antigo pavimento da Estrada Real. É uma região alta, com nevoeiros, baixas temperaturas e muitas cachoeiras. Na cidade de Conceição do Mato Dentro fica a maior delas, chamada de Tabuleiro, com 273 m de queda. O Parque Estadual da Serra do Cipó possui boa estrutura para ecoturismo, explorando trilhas e cachoeiras da região. Para ir de Conceição a Serro, município histórico também conhecido como cidade do queijo, é necessário atravessar 60 km de terra, que exigem atenção e paciência do motorista.

Caminho de Sabarabuçu - de Ouro Preto a Cocais
O pequeno trecho que parte de Ouro Preto em direção a Cocais foi explorado no início do século 18, quando se descobriu a reluzente Serra da Piedade, com 1.762 metros de altitude, que possuía minério de ferro, o que bandeirantes tomaram como se fosse pedras preciosas. A ânsia por ouro levou aventureiros a traçarem um caminho por meio da mata fechada, o que transformou esses 160 km em puro turismo de aventura.

Passando por quatro cidades e outros cinco povoados, o caminho tem apenas alguns trechos pavimentados e conta com subidas íngremes, compensadas com vistas para as serras quase infinitas do cerrado mineiro.