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Perto de Nova York, Connecticut é cenário ideal para passeios litorâneos

Amy Thomas

New York Times Syndicate

28/10/2012 08h05

Quando os nova-iorquinos pensam em fugir da cidade, durante os meses de verão, as opções mais comuns são Hamptons, Catskills e Berkshires. Outros preferem a costa de Nova Jersey, mas a maioria ignora o litoral de Connecticut, visto mais como um lugar de passagem e não como destino de férias.

Menos eu, que me apaixonei novamente pelo estado onde nasci.

Cresci em East Lyme, uma cidade praiana no sudoeste de Connecticut. Há dez anos moro em Manhattan, mas todo fim de semana pego o trem que passa pelas marinas cheias, os campos tranquilos e os manguezais onde as águias-pesqueiras fazem seus ninhos. Sempre achei a região muito bonita, mas ultimamente – será que estou ficando velha ou é o lugar que esta se tornando mais sedutor? – ela está ainda mais encantadora.

É claro que você pode cruzar a divisa Nova York-Connecticut pela Interestadual 95, que corre paralela ao Estuário de Long Island, e chegar a Rhode Island em umas duas horas, mas para quê? A magia está na vista, nos aromas e sabores que podem ser descobertos ao longo desses 404 quilômetros.

A melhor maneira de explorá-los é seguindo pelas vicinais como a Rota 136, no oeste de Connecticut, a Rota 156 no leste e a Rota 1 que acompanha toda a costa, e passar a noite em cidadezinhas como Madison ou Mystic.

A primeira impressão que se tem de Connecticut pode enganar. Greenwich, logo depois da divisa com Nova York, é uma cidadezinha com renda média anual estratosférica. Ao longo do calçadão, na orla, há um desfile contínuo de carrinhos de bebê de grife, carros de centenas de milhares de dólares e iates milionários. Quando não estão à vista, os moradores preferem se esconder por trás das cercas-vivas e muros de pedra de suas mansões.

Seguindo pela Gold Coast, como é conhecido o corredor que vai até Fairfield, a paisagem continua deslumbrante. Não há um único Hyundai ou Honda no meio do mar de BMWs, Porsches e Mercedes. Casas impecáveis trazem à mente cenas da vida suburbana privilegiada retratada no filme de Ang Lee, "Tempestade de Gelo", e no livro de Richard Yates, "Revolutionary Road". Vilarejos como Westport estão lotados de lojas como a Tiffany e restaurantes de Mario Batali e Danny Meyer, refletindo a sofisticação de Nova York esticando pelo litoral.

De repente, porém, a formalidade desaparece e a região endinheirada dá lugar a cidadezinhas mais simples: em lugar das mansões, lanchonetes especializadas em frutos do mar, e os iates dão lugar aos caiaques: essa é a área de Connecticut que conheço e adoro.

  • Michael Kirby Smith/The New York Times

    Stonington é uma das interessantes cidades do litoral de Connecticut, nos Estados Unidos

Clima marítimo

O lugar mais distante a que eu e meus amigos nos arriscávamos na infância era New Haven, onde sempre parávamos na Claire's Corner Copia para comer sanduíche de tofu e salada de lentilha - pratos bem exóticos nos anos 80 - e ver as vitrines das boutiques da Chapel Street à sombra dos prédios neogóticos de Yale. Na verdade, até hoje o verdadeiro motivo para visitar New Haven é a pizza, que - me desculpem os nova-iorquinos - é a melhor do mundo.

Frank Pepe foi quem iniciou tudo em 1925, quando acendeu seu forno a carvão e começou a fazer tortas de tomate numa massa fininha - um estilo local conhecido como "apizza". A guloseima já virou lenda, atraindo nomes como o crítico gastronômico Alan Richmanto e Bill Clinton.

Embora os netos de Pepe tenham levado a pizzaria do avô para outras cinco cidades, a fila na casa original, na Wooster Street, no bairro italiano de New Haven, é sempre a mais longa. Muitos querem provar a especialidade: a pizza de marisco, coberta por amêijoas, alho, azeite, orégano e queijo Romano servida por garçonetes para lá de simpáticas. É um pedacinho do céu.

Apesar de toda a popularidade do Pepe's, ele não é o único restaurante local a ter um séquito de fãs: duas cidades depois, em Guilford, a vastidão da beira de estrada é parcialmente ocupada por um encerado listrado de branco e vermelho caindo aos pedaços: é o Place. Criado há mais de trinta anos por Gary e Vaughn Knowles, dois irmãos que queriam complementar o salário de professores, hoje é um salão/churrascaria barulhento, com muita música e pouco luxo.

  • Michael Kirby Smith/The New York Times

    Não dá para visitar Connecticut sem provar a lagosta do Abbot's Lobster in the Rough

"Não existe nada igual", diz Gary Knowles, com orgulho, ao lado da grelha de 7,5 metros onde tem um pouco de tudo, desde peixe-gato até frango, passando por espigas de milho gorduchas, preparadas por funcionários jovens, geralmente universitários fazendo um bico. Durante todo o verão passam por ali alunos de Yale, famílias e turistas para experimentar os mexilhões do Place, assados na manteiga e cobertos por um molho especial.

O trecho da Rota 1 que vai de Guilford a Old Saybrook é um dos meus favoritos. Abaixo o vidro, deixo o cheiro de maresia entrar e atravesso as pontes levadiças sobre os riachos e manguezais. Canoas deslizam sobre os afluentes enquanto navios e barcos enfeitam o estuário. Vale a pena dar uma conferida na maior praia pública do estado, que fica no Parque Estadual Hammonasset.

Paisagem diversificada

Além da influência marítima, o que dá a viagem a cara de Connecticut é a mistura de lojas de antiguidades e de bugigangas, casas do século 17 e cemitérios, sorveterias e celeiros cheios de livros. Há lojas de material de pesca e barraquinhas vendendo morangos e abóboras.

O centro das cidadezinhas - como o de Madison, onde você pode encontrar a livraria independente superpopular R.J. Julia - são enfeitados com bandeiras norte-americanas. Rosas se exibem por trás das cercas brancas enquanto carvalhos, olmos e uma ou outra faia se destacam contra o belíssimo céu azul de verão. É a versão cartão-postal do interior dos EUA.

Eu achava que, depois que ficasse adulta, o lugar onde cresci fosse ficar menor e menos especial do que é nas minhas lembranças, mas, na verdade, aconteceu o contrário.

Hoje, Lyme tem o mesmo nome da doença causada por um minúsculo carrapato, mas há um século era conhecida por ser um cenário de inspiração para pintores. Só há pouco tempo tive a oportunidade de visitar o Museu Florence Griswold, montado numa antiga pensão, e descobri que um dos maiores e mais antigos centros de arte dos EUA ficava bem ali, praticamente no meu quintal.

  • Michael Kirby Smith/The New York Times

    Banhistas se divertem em praia do litoral de Connecticut, no costa leste dos Estados Unidos

Várias galerias exibem as obras de impressionistas norte-americanos como Henry Ward Ranger, William Chadwick e Childe Hassam. Espalhado sobre o gramado que dá para as margens arborizadas do rio Lieutenant, é fácil entender por que os artistas voltavam ali ano após ano.

A paisagem pitoresca continua ao longo da Rota 156, onde já andei de caiaque na Connecticut River Estuary Canoe & Kayak Trail, passando por garças e pescadores em busca do robalo listrado - se bem que prefiro pegar o caminho que passa por Hallmark Drive-In, verdadeiro monumento de Old Lyme que vende sorvete caseiro há mais de cem anos. Não tem nada que seja mais a cara do verão para mim do que degustar uma casquinha de sorvete de chocolate com menta numa das mesinhas de piquenique ao ar livre.

Sempre achei que não haveria nada mais parecido com a estrada que vai para o céu do que o último trecho do litoral de Connecticut – opinião dividida por aquele que colocou um cartaz numa árvore da cidadezinha de Noank: "Esse é o nosso pedacinho do céu, por isso, não dirija feito um demônio por aqui".

Talvez seja para inibir a fila de carros que vai até o Abbot's Lobster in the Rough, um restaurante sazonal à beira da praia aonde só se chega graças a uma estradinha sinuosa. A verdade é que não dá para visitar Connecticut sem provar o sanduíche de lagosta - e como todos os turistas japoneses que registram suas refeições em suas câmeras podem provar, os 112 gramas de carne de lagosta, suculenta e amanteigada, perfeitamente encaixada num pãozinho de hambúrguer, são um exemplo perfeito.

Passando as boutiques de luxo de Mystic vem Stonington, a última cidade de Connecticut. Solitário na península, um farol de 1840 que já viu de tudo - de bombardeios britânicos a furacões poderosos - se destaca de frente para uma pequena praia pública. Em todas as direções, água. Aqui, com o sol batendo no rosto, a solidão e o cheiro de sal no ar, tenho certeza de que não há lugar no mundo como a casa da gente.

Se você for

A I-95 é uma das rotas mais rápidas para se chegar a Connecticut, mas o melhor é explorar o litoral na Rota 1 e outras estradinhas menores como a Rota 136 e a Rota 156. Aqui vão alguns destaques:

Tarry Lodge Enoteca Pizzeria
Mario Batali e seus sócios oferecem massas caseiras, pizzas feitas em forno à lenha e pratos suculentos à base de carne num ambiente escuro e elegante. Jantar para dois com uma garrafa de vinho sai por US$ 120. Endereço: 30 Charles St., Westport. Telefone: (203) 571-1038. Site: tarrylodge.com

The Place
Pratos clássicos preparados na grelha em ambiente casual. Jantar para dois sai por volta de US$ 50. Endereço: 901 Boston Post Road, Guilford. Telefone: (203) 453-9276. Site: theplaceguilford.com

Abbott's Lobster in the Rough
Clássico de Connecticut que oferece mesinhas de piquenique com vista para a água. Jantar para dois sai por volta de US$ 45. Endereço: 117 Pearl St., Noank. Telefone: (860) 536-7719. Site: abbotts-lobster.com

Madison Beach Hotel
Um hotel novo, com 33 quartos e vista para o mar, com acesso a praia particular. Diárias dos quartos duplos variam de US$ 375 a US$ 525, dependendo da estação. Endereço: 94 West Wharf Road, Madison. Telefone: (203) 245-1404. Site: madisonbeachhotel.com