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Saiba como passar um fim de semana em Oslo gastando apenas US$ 100

Seth Kugel

New York Times Syndicate

14/10/2012 08h00

É só começar a dizer para as pessoas que você vai passar um fim de semana em Oslo com US$ 100 no bolso que os palpites começam a pipocar. Alguns vêm em forma de pesquisa - como o relatório da UBS que coloca Oslo como a cidade mais cara do mundo pelo terceiro ano consecutivo; outros levam susto ou se saem com a tradicional piadinha do tipo: "A comida em Oslo é tão cara que eles até vendem meio pepino".

Eu não sou de me deixar levar. Sete fins de semana de US$ 100 em lugares caros como Paris e Rio de Janeiro me mostraram que essas cidades podem e devem ser bem curtidas, sim, mesmo com uma miséria como essa. Em Copenhague, um pouco antes de viajar para a capital norueguesa, comprei um softkernerugbrod, o pão de centeio dinamarquês, e guardei na mochila. Foi bom porque ajudou a complementar o fim de semana.

Sexta-feira

Orçamento apertado geralmente significa comida ruim, mas dessa vez foi diferente. Comecei o fim de semana me empanturrando de salada, homus, ensopados, batata gratinada e pão fresco no bufê vegetariano do restaurante self-service Vega, que fica num prédio antigo cheio de personalidade a poucas quadras do principal calçadão da cidade, o Karl Johans Gate. Cem coroas (cerca de US$ 17) é uma bagatela por uma refeição quente em Oslo, onde qualquer sanduíche merreca do tipo Starbucks custa umas 70 coroas.

Só que a minha decisão tão saudável ficou completamente comprometida durante a caminhada de meia hora que fiz do Vega ao Frognerparken, onde fica o Jardim de Esculturas Vigeland. Passeio a pé é uma atividade sadia, mas, por alguma razão, naquele dia Oslo estava lotada de jovens comendo chocolate, biscoitos, balas e outras gostosuras açucaradas. Não resisti. Comprei umas guloseimas para mais tarde e fui para o parque.

Fico entediado rapidinho vendo esculturas, quase tanto quanto o cara que só fez Introdução à História da Arte porque a mãe quis, mas é difícil imaginar qualquer pessoa, entre três e cem anos, que não fique feliz em poder gastar umas horinhas explorando o Parque Vigeland, uma área que reúne mais de 200 esculturas de Gustav Vigeland.

As figuras humanas, em bronze e granito (e algumas até incrustadas nos portões de ferro do parque), exibem toda a gama de expressões humanas: pensativa, graciosa, desconfortável, amorosa e violenta. E todas estão nuas (há um museu de esculturas ali perto, no prédio onde Vigeland viveu, que cobra 50 coroas pelo ingresso. O parque é de graça).

  • Seth Kugel/The New York Times

    Vista da belíssima Opera House, um dos edifícios que podem ser admirados em Oslo

Nesses meus fins de semana de US$ 100, a acomodação obrigatoriamente tem que ser de graça. Antigamente, eu me virava com o CouchSurfing.org ou a gentileza dos meus contatos no Facebook para encontrar um anfitrião, mas em Oslo tive uma surpresa: um acampamento grátis na ilha de Langoyene, a 15 minutos do centro de balsa (a passagem de ida custa 30 coroas; aproveitei e comprei também um passe para o dia de 75 coroas para usar no dia seguinte).

Como fui para lá em meados de junho, a última balsa estava saindo às 18h45 (a partir do dia 18, elas passaram a sair até mais tarde), então passei no supermercado para comprar provisões. Apesar dos preços de dar medo, consegui pegar queijo, frutas, um produto com cara de coalhada grega chamado "skyr" e duas cervejas por 85 coroas. Com o pão que eu tinha levado da Dinamarca, estava bem arranjado até o almoço do dia seguinte.

Como era de se esperar, o pessoal à espera do barco era dos mais ecléticos: uma família norueguesa, dois rapazes com material de pesca e dois imigrantes – Elder, de Portugal, e Luis, da República Dominicana.

O que eles estavam fazendo ali? Graças ao espanhol que aprendi quando morava e trabalhava nos bairros dominicanos de Nova York, fiquei sabendo que Luis era da cidadezinha de Padre Las Casas, onde também nasceu o astro do merengue Kinito Mendez – informação inútil, é verdade, mas que rendeu assunto. Não demorou para Luis me contar toda a história: ele tinha conhecido uma norueguesa que passava férias na República Dominicana, se casou com ela, se mudou para a Noruega, tiveram uma filha e se divorciaram. A crise econômica pegou os imigrantes de jeito e, sem ter onde morar, Luis agora acampa em Langoyene.

  • Seth Kugel/The New York Times

    Mulheres fazem festa em transporte público da cidade de Oslo, capital da Noruega

Ele me garante que o lugar é calmo e tranquilo. Muitos noruegueses vão para lá para passar o verão (por opção, ao contrário de Luis), e, em geral, é seguro deixar os pertences menos importantes durante o dia. Eu montei a minha barraca perto de algumas famílias e passei uma noite tranquila, embora devesse ter usado uma venda para os olhos: em Oslo, em junho, o sol se põe depois das dez da noite e nasce antes das quatro.

Dinheiro gasto: 215 coroas (US$ 36,75)
Dinheiro sobrando: 370 coroas (US$ 63,25)

Sábado

Eu teria ficado no acampamento se as balsas operassem até mais tarde, mas acabei arranjando um lugar para ficar no sábado - apesar de o CouchSurfing não ter dado em nada, consegui ficar com um amigo do amigo de um amigo.

Depois de deixar minhas coisas no apartamento e comer um sanduíche de queijo no almoço, peguei o bondinho (onde, acredite se quiser, estava rolando uma despedida de solteira e o vinho corria solto) e saí a esmo pelo centro, parando para ver o Teatro Nacional e a belíssima Opera House, inaugurada em 2008.

Eu tinha planejado fazer o passeio de graça pelo Parlamento Norueguês a seguir, mas acabei confundindo os horários e, em vez disso, peguei a balsa para um museu que homenageia um grupo muito mais descolado de noruegueses: os vikings.

O Viking Ship Museum (ingresso a 60 coroas, foi minha única visita cultural paga) destaca três navios vikings recuperados dos cemitérios nas colinas da periferia da cidade há cem anos. Dois estão num estado quase impecável. Além disso, foi muito interessante observar o trabalho dos entalhes na madeira dos trenós e outros artefatos recolhidos dos cemitérios. Longe de mim ofender o Museu Munch (95 coroas) ou o Centro do Nobel da Paz (80 coroas), mas acho que fiz a escolha certa.

  • Seth Kugel/The New York Times

    Acampamento gratuito pode ser encontrado na ilha de Langoyene, perto de centro de Oslo

Além do mais, consegui uma palhinha dos dois. O Centro fica logo na saída das docas - e adivinhem quem estava lá, falando para a multidão, quando eu cheguei? A líder pró-democracia e ex-prisioneira política de Mianmar, Daw Aung San Suu Kyi, que (finalmente) recebeu o Prêmio Nobel que ganhou em 1991. Fiquei por ali para ver sua aparição pública, curta, mas muito graciosa, ainda surpreso com a coincidência.

Já estava anoitecendo, era hora de atravessar o rio a leste de Oslo para dar uma espiada nos dois bairros mais interessantes da cidade: o Gronland, onde decidi jantar, e o descolado opera, onde queria tomar um drinque.

Os bairros de imigrantes geralmente são áreas cheias de vida, animadas, e Gronland não era exceção, e fui atrás de uma refeição substanciosa e bem temperada. Fui aconselhado a experimentar o Punjab Tandoori, onde o jantar saía por 69 coroas (uns US$ 12). Num bairro parecido dos EUA, esse preço faria a festa de qualquer glutão; aqui, consegui dois pedaços de frango - bem preparados e saborosos, sim, mas ridiculamente pequenos - acompanhados de arroz, um pedaço de pão naan e uma salada microscópica coberta de duas rodelas de pepino, transparentes de tão finas. O lugar, com certeza, comprava o legume pela metade.

Tinha ouvido falar que Gronland tinha a fruta mais barata da cidade e era verdade; uma maçã e uma laranja me custaram 4 coroas. Também tomei, por 24 coroas, um café cortado no Cedar Sunrise, uma lanchonete libanesa que serve de ponto de encontro para somalis e outros; naquela noite, estavam entretidos com a partida de futebol entre a República Tcheca contra a Polônia. Fiquei por ali, vendo o jogo, e demorei para me tocar de que o jogo estava sendo narrado em árabe e não em norueguês.

De lá, saí andando até o Grunerlokka e subi até o Thorvald Meyers Gate, a avenida principal, onde havia tudo o que os bairros descolados do mundo todo têm: um bar de tapas lotado, um clube com pinta grunge, jovens vestidos numa moda propositadamente casual e uma filial da L'Occitane en Provence.

Eu tinha 121 coroas, que imaginei serem suficientes para tomar um drinque naquele que todo mundo disse ser o melhor bar da cidade, o Bar Boca. Minúsculo e lotado, seu cardápio estava cheio de adaptações criativas dos coquetéis tradicionais e os bartenders (um até de suspensórios) se virando como loucos entre as garrafas e apetrechos. Havia muitas referências a Nova York, mas como isso não me impressiona nem um pouco, optei por um Remember the Maine, adaptado de um livro de receitas de 1930, uma combinação saborosa de bourbon, vermute, licor de cereja e pastis por 106 coroas (ou o equivalente a US$ 18, considerado até razoável, já que não foi preciso dar gorjeta). Aí peguei o bondinho de volta para casa.

Dinheiro gasto: 570 coroas (US$ 97,44)
Dinheiro sobrando: 15 coroas (US$ 2,56)

Domingo

Levei o resto da comida – a maçã, a laranja e o último naco de pão de centeio – para um brunch/piquenique no gramado do Slottsparken, o parque que circunda o Palácio Real. Já tinha planejado a atividade do almoço, uma visita à Galeria Nacional que, aos domingos, é gratuita. O que fazer, então, com as 15 coroas que sobraram?

Não dava para tomar um café (umas 24 coroas ou US$ 4), nem uma Coca (20 coroas, se você tiver sorte) nem comer uma barra de chocolate (19 coroas). Meus anfitriões sugeriram que eu comprasse um bilhete de loteria, mas não sou do tipo apostador.

O que acabei fazendo foi usar dez coroas para alugar um armário para a mochila e dar uma folga para os meus ombros cansados - o que foi ótimo, já que a mobilidade extra me permitiu passar pelo meio de um grupo de turistas japoneses para ver a obra mais famosa do museu: "O Grito", de Edvard Munch, que, segundo os meus humildes conhecimentos de História da Arte, representa bem o viajante com orçamento apertado depois de passar um fim de semana em Oslo.