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Em Mendoza, carros antigos levam turista para passeio entre vinhedos e montanhas andinas

Marcel Vincenti

Do UOL, em Mendoza*

14/06/2012 08h17

No começo dos anos 2000, enquanto pedalava pela região da Toscana, na Itália, o empresário argentino Ramiro Marquesini teve uma visão que iria mudar seus planos para o futuro. Explorando as estradas de Montalcino sobre sua bicicleta, ele subitamente cruzou com um automóvel Alfa Romeo Giulietta 1960, que, de maneira vagarosa, cruzava os vinhedos locais com um casal a bordo.

“Fiquei impressionado com o romantismo da cena”, relembra Ramiro. “Não apenas pelo fato de ser um casal passeando pela Toscana, mas pela maneira como eles faziam aquela viagem: sobre um carro lindo e de modo lento, sem pressa, curtindo a paisagem”.

Estabelecido na Itália para se especializar em administração de vinícolas, Ramiro voltaria para sua terra natal com uma ideia fixa: montar em Mendoza, a região com o maior número de vinhedos da Argentina, um serviço de aluguel de automóveis antigos para passeios enoturísticos. Os carros em questão foram “argentinizados”: no lugar do Alfa Romeo entrou o simpático Citröen 3cv, produzido na terra de Maradona entre os anos 1970 e 1980.

Ramiro comprou cinco desses automóveis, os reformou e os colocou nas ruas de Mendoza. No interior do carro, bancos cobertos com forro quadriculado, uma alavanca de câmbio (de quatro marchas) que opera na horizontal, janelas que se abrem dobrando para cima e, em contraste com tudo isso, um aparelho de GPS. Por fora, formas arredondas pintadas com duas cores, um teto de lona que abre parcialmente e muito carisma: absolutamente todo mundo olha (e sorri) para o veículo quando ele cruza uma rua.  

O Citröen 3cv não leva mais do que três passageiros e dificilmente ultrapassa os 70km/h. Não à toa, Ramiro batizou sua empresa de “Slowkar” (carro lento): “quem aluga nossos veículos está de férias e não deve ter pressa”, diz ele. “Principalmente porque irá ver muitas paisagens bonitas em seu caminho”.

Vinhos andinos

A região de Mendoza está localizada perto da fronteira da Argentina com o Chile e suas estradas correm, invariavelmente, à sombra da imponente Cordilheira dos Andes. O Monte Aconcágua, a mais alta montanha das Américas, com 6.962 metros de altura, faz parte da paisagem. A seus pés, estendem-se as plantações de uvas malbec, cabernet sauvignon, bonarda, merlot, chardonnay, sauvignon blanc, tempranillo e syrah que movem a economia local.

  • Marcel Vincenti/UOL

    As vinícolas de Mendoza estão concentradas principalmente nas regiões de Maipú, Luján de Cuyo e Valle de Uco. Boa parte delas podem ser visitadas por turistas

Calcula-se que existam mais de 1.500 vinícolas em operação na província de Mendoza, e muitas delas são abertas para visitas turísticas. Elas estão concentradas principalmente nas regiões de Maipú (a 15 km da cidade de Mendoza), Luján de Cuyo (a 20 km de Mendoza) e Valle de Uco (a 80 km de Mendoza).

Mover-se entre essas áreas a bordo do Citröen 3cv é uma experiência única: os passageiros sentem que o carro é realmente devagar ao trafegar pelas rodovias que cortam a região e o impulso de pisar mais forte no acelerador é inevitável. Mas essa lentidão forçada os obriga, como previu Ramiro, a "se focar mais no cenário que os rodeia do que na velocidade no carro".

Boa parte do passeio se concentra em cruzar as pequenas estradas que cortam os parreirais e estacionar na porta das vinícolas em busca de uma boa degustação. Em Mendoza, há desde as produtoras mais tradicionais (como a Família Di Tommaso, instalada em um edifício de 1869), que oferece tours em ambientes mais rústicos, até empresas ultramodernas, como o Grupo O.Fournier, que, em 2005, inaugurou no Valle de Uco uma das mais impressionantes vinícolas de toda a Argentina.

Sua produção é de 600 mil garrafas por ano e, por conta da nacionalidade de seu dono, o espanhol José Manuel Ortega, a tempranillo é a uva mais utilizada pela empresa.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Citröen da Slowkar passa na frente da vinícola O.Fournier, uma das mais modernas de Mendoza

É a arquitetura da vinícola, porém, que mais chama a atenção dos turistas que visitam a região. A produção e o armazenamento dos vinhos da O.Fournier é realizado dentro de um edifício desenhado pelo aclamado escritório argentino Bórmida & Yanzón: a construção tem capacidade para abrigar 2.800 barris de carvalho e parece uma nave espacial pousada no meio dos Andes.

A visita ao seu interior passa por todo o processo de produção do vinho, desce para uma cava dez metros abaixo do solo e termina com uma sessão de degustação de algumas das excelentes garrafas da casa. Obras de arte permeiam as pilhas de barris e, ao final do passeio, o turista pode almoçar no interessante restaurante local, cujas janelas se abrem para as montanhas andinas nevadas.

Além da arquitetura, a O.Fournier foi criativa em outro ponto: atualmente, a empresa está vendendo lotes de seu terreno (a US$ 150 mil o hectare) para pessoas que têm vontade de produzir seu próprio vinho. Além da terra, o comprador ganha todo o suporte técnico da empresa, que promete lhe ajudar a produzir garrafas de primeira classe.

Se depois do passeio, o turista se sentir perdidamente apaixonado pelo mundo do vinho, está aí uma boa chance para mudar de vida.

Dicas

  • Para uma experiência gastronômica inesquecível, não deixe de visitar o restaurante Nadia O.F., localizado a 30 minutos do centro da cidade de Mendoza. Eleito o melhor restaurante da Argentina pela Academia Nacional de Gastronomia, o lugar tem um cardápio que muda toda a semana e apresenta receitas como creme de cebolas com espuma de parmesão, raspadinha de laranja com azeite de oliva e grelhados que só os cozinheiros argentinos sabem fazer. O menú degustação com seis pratos custa a partir de 150 pesos (cerca de R$ 68). Endereço: Rua Itália 6055 – Chacras de Coria – Mendoza. Telefone: 467-1021
  • A bordo do Citröen 3cv, não deixe de explorar o perímetro urbano de Mendoza, uma das mais belas cidades argentinas, recheada de parques, cafés, avenidas arborizadas e ótimos restaurantes. Para conseguir mapas e informações adicionais, vá até o Escritório de Turismo Provincial, no centro da cidade. Aberto diariamente de segunda a sexta, das 8h às 22h. Endereço: Avenida San Martín, 1143. Telefone: 420-2800.  
  • Por incrível que pareça, o melhor lugar para pesquisar preços de vinho em Mendoza é no Carrefour. É lá que o visitante pode encontrar uma enorme quantidade de rótulos por valores bem atraentes. O maior e melhor supermercado na rede na cidade fica na esquina da avenidas Belgrano e Las Heras.
  • O aluguel diário de um dos carros da Slowkar custa US$ 100, com tempo mínimo de locação de dois dias. O valor cai à medida que o tempo do aluguel aumenta. Para dar tempo de visitar as regiões de Maipú, Valle de Uco e Luján de Cuyo, fique com o automóvel pelo menos três dias. Mais informações: www.slowkar.com

*O repórter Marcel Vincenti viajou a Mendoza a convite da Slowkar