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Vai comer em Copenhague? Sorte sua! Conheça boas opções na capital da Dinamarca

Mark Bittman

New York Times Syndicate

22/04/2012 07h00

Desde os anos 1990, quando o sucesso do El Bulli fez dele o restaurante mais falado do mundo - e gerou uma verdadeira revolução culinária no nordeste da Espanha - não se via uma transformação tão radical na imagem de uma cidade enquanto destino gastronômico como aconteceu com Copenhague, deixando o resto da Escandinávia - na verdade, o norte da Europa - comendo poeira. Nos últimos anos, o restaurante mais famoso da cidade, o Noma, recebeu um prêmio atrás do outro e os gourmets começaram a visitar a cidade para conferir o que o seu chef, René Redzepi, tinha feito com a cozinha nórdica. Simples, mas incrivelmente inovador, seu estilo combina os frutos das florestas e do mar de forma que, se não se destaca como dinamarquês, pelo menos é inconfundivelmente escandinavo.

Só que depois de chegar a essa cidade bela e mágica e provar a refeição do Noma, com todas as suas raízes, ervas, grãos, frutos do mar, carnes de caça e flores, você se pergunta: "E agora, onde vou comer?".


Nas duas viagens que fiz para lá, tratei de arrumar respostas - e descobri que há um sem número de opções. Embora as ruas, principalmente no inverno, fiquem assustadoramente vazias, os restaurantes que visitei estavam fervendo. Dos que mais gostei, o Relae pertence a um ex-funcionário do Noma, detalhe que fica bem óbvio; o Geist é inacreditavelmente criativo, arrojado e extremamente bem-sucedido. Os outros dois, Paustian e Schonnemann, são bem tradicionais, mas mantêm um altíssimo padrão culinário e uma energia vibrante. De fato, ao visitar esses restaurantes você pode até acreditar que a cidade inteira come fora toda noite, mais ou menos como Nova York, embora meus amigos garantam que a cultura gastronômica seja relativamente modesta. Sei lá, talvez a maioria dos clientes seja de turistas então.

Além dos restaurantes que descrevo aqui, quero recomendar um e mencionar alguns outros. A recomendação é o Kodbyens Fiskebar (Fish Bar), que visitei em 2010. Adorei o lugar, mas não fiz nenhuma anotação (estava lá só para me divertir) e não tive tempo de revisitá-lo quando voltei à cidade. Entre os outros está o Radio, que é de um dos sócios do Noma, Claus Meyer. Se não fosse por seu histórico, eu o ignoraria solenemente, já que achei a comida bem fraquinha e o serviço irritante, mas pode ter sido só uma noite ruim. Por fim, o Gronbech & Churchill e o Mielcke & Hurtigkarl são dois restaurantes muito prestigiados que queria visitar, mas não tive tempo.

Você pode chegar a todos eles a pé de qualquer um dos hotéis centrais - e a caminhada, principalmente até o Relae e o Schonnemann, vai levá-lo a bairros adoráveis (o jardim do Castelo Rosenborg, perto do Schonnemann, é imperdível). Não se esqueça de que um dólar americano vale mais de cinco coroas dinamarquesas e, por isso, até os preços razoáveis parecem muito altos (a tarifa de táxi me pareceu um absurdo).

  • Johan Spanner/The New York Times

    Creme de abacate com amêndoas ao curry e lâminas de amêndoas do Geist


Geist
As pesadas portas de teca, combinadas aos balcões de mármore e aos espelhos estranhamente fora de lugar, dão um ar frio e meio sombrio ao lugar que, pelo menos para mim, parece bem sofisticado. Sim, mas e daí? A maior parte dos pratos é realmente impressionante. Eles variam constantemente e o chef, Bo Bech, que trabalhou no Paustian antes de abrir o Geist, cria o cardápio na última hora, antes de abrir - ou seja, ele não é infalível, mas quando acerta, o faz de maneira soberba.

Não vou nem tentar avaliar os pratos; prefiro apenas falar do que mais gostei. O creme de abacate com amêndoas ao curry e lâminas de amêndoas é gordura pura, mas, apesar disso, a crocância das amêndoas criou um contraste maravilhoso com o creme e me fez querer comer até passar mal. Outro prato no melhor estilo "Socorro, eu vou explodir" é o purê de batatas à la Robuchon (ou seja, 50 por cento é manteiga com sal) com carne de caranguejo em conserva. Só ele já vale a visita. Para vocês não pensarem que o cardápio só oferece pratos gordurosos, há pelo menos uma opção magra, mas igualmente saborosa: rodovalho grelhado com ravióli recheado de funcho, queijo cremoso e parmesão.

Porém, nem tudo é perfeito: o aipo-rábano com leitelho condensado era bonito, mas achei encharcado e os tomates minúsculos (do tamanho de pérolas) com "banana aromática" (que eu imagino que seja azeite com infusão da fruta) não é tão gostoso como parece, (ou talvez não pareça mesmo gostoso) embora a aparência seja linda.
As sobremesas seguem o mesmo padrão: ou incrivelmente saborosas ou meio sem graça, mas posso adiantar que o sorvete com azeitona preta e alcaçuz negro, acompanhado pelo que parecia um wafer de leite solidificado, é campeão - assim como uma variação do tradicional pão de centeio com creme e confit de maçã com cobertura cuca.

Geist, Kongens Nytorv 8; (45) 3313-3713. Uma refeição média (grande) para duas pessoas sai por 795 coroas ou 150 dólares (os preços não incluem bebidas nem gorjetas).

Relae
Antes da minha última refeição na cidade, liguei para o Redzepi, do Noma, e perguntei se não estaria fazendo a vocês, meus queridos leitores, um desserviço ao deixar de ir ao Relae. "Você tem que ir", ele disse. "Aquilo é uma brasa morta, mas daqui a pouco vai virar um fogaréu".

Fazer o quê? Realmente, o lugar é sensacional: aconchegante, mas luminoso, animado e divertido, com pratos interessantes, cuidadosos e deliciosos (se os nossos dois cardápios servirem como parâmetro). A decoração é simples, mas adorável e inteligente - como o detalhe das gavetas em cada mesa, que contêm cardápios, guardanapos e talheres. A arte nas paredes é atraente, as peças de cerâmica (compradas de uma loja na mesma rua) são perfeitas e, embora a impressão seja de que tudo foi feito com um orçamento limitado, o resultado é perfeito.

Há dois cardápios com quatro opções cada, um com carne e outro sem. Uma vez que há algumas repetições, (nem todo prato no cardápio de carnes leva carne), vou resumir o que os espera.

O primeiro prato de carne era frio: carne crua com ostras e levístico. Combinação muito boa, com a carne oferecendo não só sabor como textura. Enquanto isso, o vegetariano que me acompanhava saboreou iogurte de leite de ovelha com nabo e agrião - fresco, cheio de contrastes, maravilhoso. Depois, nós dois experimentamos couve-flor em três versões (parte esmigalhada, parte em buquês e parte em purê) com cogumelos negros Eryngii e avelãs frescas; esse foi o prato mais parecido com o estilo do Noma, um sucesso estrondoso. A seguir, veio o pato selvagem com sabugueiro e cebolas queimadas, (de propósito) um prato rico e pungente. Por fim, o último prato vegetariano: funcho e purê de funcho com salsa, amêndoas defumadas e creme de amêndoas. Eu achei um prato muito leve para ser considerado principal; estava mais para entrada, mas era curioso e muito bom.

Entre as sobremesas, o coco fresco ralado com pimenta-do-reino e framboesa foi o único prato que não me emocionou; a framboesa roubou a cena (há uma razão pela qual não se come coco puro: ele é seco e tem uma textura molenga).

Deixa para lá. Adorei o lugar. É parecido com o Noma, mas mais ágil, menos sério e menos caro.

Relae, Jaegersborggade 41; (45) 3696-6609; restaurant-relae.dk. Refeição média para dois: 636 coroas.

  • Johan Spanner/The New York Times

    Prato com cebolinha, bacon e cogumelos; culinária é um dos grandes atrativos de Copenhague


Paustian
Do nosso hotel ao Paustian foi uma caminhada de quase cinco quilômetros, mas considerando que já fazia doze horas que tínhamos deglutido uma refeição pesada no Geist, decidimos que o exercício era bem-vindo; além do mais, o tempo estava perfeito. O Paustian fica numa loja de móveis moderna num pequeno porto, um cenário de cartão postal (e a uma corrida curta de táxi do centro da cidade; não, você não é obrigado a caminhar). É muito estiloso, mas de uma forma agradável, com linho bege e teca em todo lugar, castiçais modernos e, é claro, uma quota considerável de branco, quebrado por obras de arte contemporânea e toques tradicionais como estampa xadrez.

A comida é bem tradicional, com o melhor que a cozinha dinamarquesa tem a oferecer. Quando Bo Bech era o chef - ele saiu em 2010 para abrir o Geist - talvez fosse mais audaciosa, mas, para mim, o Paustian está perfeito. Os pratos podem parecer meio formais, com alguns toques franceses com um ar de século 19, mas são cuidadosamente elaborados, maravilhosamente apresentados e perfeitamente deliciosos. O pão de centeio é servido com gordura de porco e manteiga fria, além de picles de legumes. A entrada de arenque não passa de uma versão mais sofisticada do arenque salgado e tão boa quanto ela (eu como até não aguentar mais).

Os cogumelos selvagens na torrada com manteiga e croûtons de pão de centeio com manteiga e estragão estavam simplesmente perfeitos; o empadão de frango com trufas de verão é o exemplo mais bem acabado do que um prato deve ser, inclusive por causa da massa. O prato principal foi uma perna de capão no osso servida com uma beterraba fantástica e um molho cremoso de mostarda com uma tigela de batatas. A garoupa e o lagostim, cozidos na manteiga, estavam bem suaves - vá lá, sem graça - mas foram salvos pelo maravilhoso sautée de repolho. O filé de coió frito foi servido com uma variedade de raízes, incluindo aipo-rábano, maçãs e peras.

As sobremesas são famosas, principalmente os sorvetes, sempre em novos sabores. Adoro o bolo de amêndoas com maçã e geleia de maçã, mas os clássicos crêpes com frutas vermelhas e creme também são uma boa pedida.

Paustian, Kalkbraenderilobskaj 2; (45) 3918-5501. Refeição média para duas pessoas: 636 coroas.

Schonnemann
Era a minha segunda viagem a Copenhague em um ano e dois meses e eu estava decidido a ir ao Schonnemann, o que não é fácil; fica tão lotado de políticos, executivos e clientes cativos que poucos turistas conseguem entrar (fiz reserva antes de viajar e vocês devem fazer o mesmo).

O local, que só serve almoço, é um bar antigo, mas bem conservado, revestido de madeira e metais dourados e bem iluminado, embora a luz ambiente também seja boa. Serve o tradicional smorrebrod (o sanduíche aberto, não o bufê), que deve ser degustado com cerveja e schnapps, na forma de aquavit. Sugiro que vá ao restaurante quando estiver ainda grogue com o fuso horário, prestes a ir embora, ou quando tiver tempo para capotar na cama depois - e passe a tarde lá. Você não vai precisar jantar.

O pão é excelente, assim como o serviço, e você pode experimentar sanduíches como o de arenque gordo com ovo cozido temperado com curry, alcaparras e cebolas; a enguia defumada é soberba com ovos mexidos e cebolinha; steak tartare; há salmão defumado com lagostim e uma variedade de pratos de frango, peixe ou carne que são verdadeiros clássicos (ainda fico com os sanduíches). Sobremesa: queijo frito com frutas vermelhas. Já que é para arrasar, capriche.

Schonnemann, Hauser Plads 16; (45) 3312-0785; restaurantschonnemann.dk. Refeição média para duas pessoas: 150 coroas.