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Descubra os detalhes da 'nova arquitetura' da costa da Croácia

Adam H. Graham

New York Times Syndicate

22/01/2012 07h00

A cidade costeira de Rovinj, na península Istriana da Croácia, há muito é destino de turismo, graças em grande parte à sua natureza exuberante. Suas áreas de camping em florestas de abetos ficam lotadas de trailers com placas austríacas e alemãs. Suas enseadas rochosas são tomadas por croatas que vêm passar o dia, entrando e saindo do azul Adriático.

Mas em 2011, um novo motivo para visitar a região surgiu quando o Hotel Lone foi aberto. O edifício branco e linear é apenas uma das várias estruturas notáveis ao longo da costa da Ístria, que oferecem uma janela para a próxima geração da arquitetura croata - inspirada, surpreendentemente, pela história da arquitetura da era iugoslava.

Durante os anos 60 e 70, os arquitetos iugoslavos rejeitavam tanto a austeridade monumental do estilo soviético quanto os movimentos modernistas que se desdobravam no Ocidente. Eles criaram uma nova escola de arquitetura - que atualmente costuma ser chamada de modernismo heroico - mais solto, mais colorido e mais suave do que os estilos do bloco soviético no Leste, mas praticamente ignorado pelos ocidentais. Atualmente, os arquitetos da região estão retomando do ponto em que pararam antes da dissolução da Iugoslávia e a guerra que se seguiu.

“O modernismo heroico foi um estilo que espelhava a ruptura política de Tito com Stalin em 1948”, disse o crítico de arquitetura, Dominko Blazevic, de Zagreb. “Depois da Segunda Guerra Mundial, os arquitetos croatas desenvolveram um estilo disciplinado, frequentemente pré-fabricado e poético, que atendia as necessidades de uma nova sociedade sobrecarregada pela pobreza e pela industrialização.”

O Hotel Lone (designhotels.com/lone; diárias a partir de 186 euros) foi projetado pela 3LHD, o principal escritório de arquitetura da Croácia. Apesar de seus terraços empilhados indistintos e fachada austera compartilharem o aspecto frio da arquitetura da era soviética, seu interiores exuberantes oferecem um vislumbre das características mais alegres, cosmopolitas, do modernismo heroico, com espirais e padrões concêntricos encontrados por toda a propriedade, uma sauna iluminada por néon e uma grande escadaria futurista no saguão, que poderia ter saído da Espaçonave Enterprise.

  • Filip Horvat/The New York Times

    Na cidade de Vrsar, na Croácia, o Parque de Esculturas Dusan Dzamonja faz um arco sobre um campo com figuras abstratas de autoria do escultor que lhe dá nome


“Estrangeiros construíram 90% dos hotéis na Croácia”, disse Silvije Novak, o principal arquiteto do Hotel Lone. Ele tinha acabado de voltar de uma exposição sobre futurismo a abordo do Galeb, o famoso iate do ex-presidente iugoslavo Josip Broz Tito, repleto com uma mistura de nacionalistas croatas mais velhos, prestando homenagem a Tito, e uma juventude mais preocupada com estilo. “Apesar de adorarmos novos visitantes, é importante não deixar a Croácia ser projetada por outros.”

A 50 quilômetros ao norte de Rovinj, a cidade de Novigrad é lar do Lapidarium (muzej-lapidarium.hr), um museu a céu aberto que abriu em 2008, projetado pelo grupo de arquitetura Randic-Turato. Apesar de abrigar de tudo, de sarcófagos do século 5º até tábuas do passado Habsburgo da Croácia, seu exterior - uma concha em forma de caixa hexagonal situada em um gramado esmeralda - é completamente modernista.

Perto dali, na cidade turística de Vrsar, o Parque de Esculturas Dusan Dzamonja (www.dusan-dzamonja.com) faz um arco sobre um campo com figuras abstratas espalhadas, de autoria do escultor que lhe dá nome, cuja morte em 2009 renovou o interesse por sua obra volumosa, da era iugoslava.

Dzamonja é mais conhecido por seus monumentos e memoriais à beira de estrada em homenagem à luta pela liberdade nacional, mais especificamente “Spomenik Revolucije” em Podgorica, uma espécie de satélite de pedra, alado, bruto, que exemplifica o modernismo heroico. Com peças como tapeçarias transformadas em globos e esculturas em forma de ovo feitas de pregos, que revelam um cinismo da era iugoslava, ele serve para lembrar o passado sombrio aos visitantes no ensolarado Adriático. (Tradução: George El Khouri Andolfato)