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Maratona por bares conquista gringos e brasileiros

FÁBIO CALVETTI

Colaboração para o UOL

28/10/2011 07h01

Não estranhe se encontrar nas ruas de um bairro boêmio mais de 50 pessoas caminhando em fila, um pouco cambaleantes, munidas de copos na mão e ávidas pela entrada no bar mais próximo. Esse é o 'Pub Crawl', ideia importada da Europa na qual o objetivo é apresentar a turistas estrangeiros as atrações noturnas da cidade em um roteiro etílico de bar em bar.

Parte da agenda cultural de mais de cem cidades ao redor do mundo, a maratona de biritas chegou ao Brasil no início deste ano. Hoje já ocorre em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro com uma característica peculiar em relação a outros países: em vez de ser um evento somente para turistas, muitos moradores das próprias cidades participam ao lado do gringos.


No meio da fila de baladeiros, também não estranhe se vir alguém de megafone revezando entre acenos e gritos. O trabalho dessa pessoa é organizar os turistas e manter a ordem e a dignidade dos participantes. Aliás, não perder a dignidade é uma das missões mais complicadas ali dentro - é só lembrar que o termo ‘pub crawl’, criado no fim do século pelos britânicos, significa ‘rastejar por bares’. "Eu vim aqui para ficar bêbado. Vim pelas tequilas, cervejas. Quero dançar e fazer amigos brasileiros", explicou José Torres, um animado estudante colombiano de 22 anos que não largava seu copo de cerveja no pub crawl realizado em São Paulo na última sexta-feira (21).

No Brasil, o valor para ingressar no ‘turismo de copo’ é de cerca de R$50. Os participantes visitam três bares conveniados e terminam a noite em uma casa noturna. Períodos com cerveja à vontade e drinques de boas-vindas também costumam estar inclusos no pacote.

"Viajamos por diversos países e participamos de muitos 'pub crawls' para trazer essa novidade ao Brasil", explica Paulo Araújo, sócio do Pub Crawl SP, o primeiro do tipo a ser fundado no país e responsável por apresentar aos turistas as ruas de bairros badalados como Vila Madalena e o baixo Augusta. Só a versão paulistana já acumula mais de 70 edições com a participação de gringos de 51 países (com direito a presença de turistas vindos de nações curiosas, como Moldávia e Paquistão).

A edição carioca - que não tem nenhuma ligação com a versão paulistana - começou mais recentemente, em julho deste ano, com roteiros em Ipanema e Copacabana. "Fazemos parte da única rede internacional de 'pub crawl' do mundo, com filiais em Buenos Aires, Santiago e Tel Aviv. Trouxemos todas as noções de marketing e know-how para cá", afirma Ariel Segatto, gerente do Rio de Janeiro Pub Crawl.

Beber, cair e... rastejar
No 'pub crawl', todos buscam ser pontuais. Em São Paulo, como a cerveja grátis rola das 22h às 23h, o balcão do bar fica cheio logo de cara. A austríaca Anita Kroiss, de 23 anos, está realizando intercâmbio em São Paulo e já participou duas vezes do evento. "Eu gostei da ideia. Vim aqui na minha primeira semana no Brasil e conheci vários bares gastando pouco. Os brasileiros também dão várias dicas de lugares para ir", afirma.

Assim que a cerveja termina é hora de colocar o pé na rua e caminhar até o próximo bar. No percurso, a equipe que acompanha os baladeiros dá dicas sobre a cidade, muda o trajeto para visitar pontos turísticos como a avenida Paulista e dá suporte em caso de contratempos. "Estamos sempre prontos para cuidar do cara se ele passar mal. Também levo comigo capas de chuva, remédios e até absorventes", conta Paulo. "Nossa responsabilidade dura até levar o cliente com segurança à última balada da noite."

Por aqui, o 'pub crawl' caiu mesmo no gosto dos brasileiros. Em uma edição em São Paulo acompanhada pelo UOL Viagem, dos mais de 50 participantes, apenas um era estrangeiro. A quantidade de gringos por noite varia bastante e, segundo estatísticas do Pub Crawl SP, de todos os participantes que já foram ao evento, apenas 30% vieram de fora do Brasil.

Esse dado curioso rende algumas cenas impensáveis para um 'pub crawl', como paulistanos que aproveitam o evento para comemorar aniversário ou despedidas de solteiro. De acordo com o sócio, não há nenhum controle para evitar gente de São Paulo, pelo contrário, qualquer um é bem-vindo. "Não tentamos decidir quem pode ou não pode participar. Às vezes só vem gente de São Paulo, em outras temos mais de 50 gringos da Dinamarca. Cada noite é de um jeito", afirma Paulo.

O principal atrativo para quem mora na cidade é o preço convidativo para visitar vários lugares numa mesma noite. Se a maratona de três bares e uma balada pelo 'Pub Crawl' custa R$ 50, o mesmo circuito feito individualmente custa quase o dobro, R$ 90.

O direito a bebidas grátis, a presença de gringos e até o clima propício para conversas são outros pontos apontados pelos paulistanos como atrativos. "É um bom lugar para sair e conhecer pessoas diferentes. Todo mundo quer conversar. Se você vai a uma balada normal e tenta puxar papo com alguém pensam que é xaveco", explica a fonoaudióloga Wanessa Morone, de 26 anos.

Em São Paulo, os roteiros costumam ser variados e podem incluir baladas de sertanejo, rock e eletrônico. Alguns passeios incluem ônibus da organização para chegar ao destino. Às vezes os bares ficam mais cheios de turistas, em outras vezes, de paulistanos. O que não muda nunca é a essência do 'pub crawl': beber de bar em bar até rastejar...

 

Os 'pub crawls' no Brasil

Búzios
Datas: todo sábado (centro)
Preço: R$ 50
www.facebook.com/pubcrawlbuzios

Rio de Janeiro
Datas: Toda terça-feira (Leblon), quarta (Copacabana), quinta (Ipanema) e sábado (Barra da Tijuca)
Preço: R$ 50
www.riopubcrawl.com/

Salvador
Datas: Terças / Quintas / Sextas / Sábados (o trajeto costuma ser Pelourinho - Rio Vermelho - Barra)
Preço: R$ 70
salvadorpubcrawl.com/

São Paulo
Datas: Toda sexta-feira (Vila Madalena) e sábado (baixo Augusta)
Preço: R$ 50 com reserva ou R$ 70 na hora
www.pubcrawlsp.com/


Quer participar de um 'pub crawl' fora do país?
O site Pub Crawl Finder (www.pubcrawlfinder.com) oferece uma lista de mais de cem cidades que contam com a peregrinação por bares.