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Aproveitar as águas cristalinas da Albânia custa pouco

SETH KUGEL

New York Times Syndicate

22/10/2011 08h00

Passando o minúsculo vilarejo de Ilias, em uma estrada de mão dupla que serpenteia pelos Montes Ceraunianos, uma placa apontava para uma estrada estreita, indicando um mosteiro a cerca de dois quilômetros de distância.

“Por que não?” eu pensei, dando seta no meu carro alugado. Eu não tinha nenhum roteiro, exceto buscar aventura a preço acessível ao longo do trecho de cerca de 130 quilômetros de praias e vilarejos entre as cidades de Vlore e Sarande, uma área conhecida como Riviera Albanesa.

Mas a estrada terminava em uma casa no alto da colina, onde uma senhora idosa vestida de preto me olhava de modo inquisitivo.

“Monastiri?” eu disse em uma tentativa inútil de sotaque albanês, naquela que posteriormente descobri ser uma região onde a maioria fala grego.

Ela apontou para a direção de onde vim e pareceu sinalizar que eu errei uma curva. De volta à estrada principal, eu encontrei um desvio altamente acidentado, peguei uma câmera e os óculos escuros no carro e comecei a caminhar. As fantasias de viagem começaram a tomar minha mente. Os monges me convidariam para jantar? Permitiriam minha estadia por alguns dias em troca da realização de algumas tarefas? Pediriam minha opinião a respeito de sua cerveja mais recente?

Nada disso, porque também não havia mosteiro no fim daquela estrada. Em vez disso, havia uma praia idílica de seixos onde um desfiladeiro inacessível de outro modo se abria para o azul Mar Jônico. Não havia nenhuma alma à vista.

Perto da praia havia vários bunkers em forma de cogumelo, que o ditador isolacionista Enver Hoxha, que morreu em 1985, instalou por todo o país para defendê-lo de um ataque estrangeiro que nunca ocorreu. Também havia artefatos mais recentes: uma página de horóscopo de jornal datada de poucos dias antes e muitas garrafas de refrigerante e cerveja, que indicavam que a praia tinha sido usada mais recentemente para outros fins que não de defesa.

Mas hoje, eu pensei comigo mesmo, ela era toda minha. Com meu calção de banho no carro, eu me despi e mergulhei as águas azuis cristalinas, registrando a cena no meu arquivo interno de melhores momentos de viagem. Foi apenas quando saí da água que eu avistei dois turistas austríacos queimados de sol, escondidos sob um afloramento rochoso lendo jornais, ou fingindo enquanto riam de mim (fui conversar com eles, fazendo de conta que nada estava fora do normal).

Ok, os austríacos meio que estragaram minha tarde na praia Gjipe, como posteriormente descobri que se chamava. Mas pelo menos em termos de despesas, a Albânia certamente é o melhor lugar para uma aventura frugal de seis semanas no Mediterrâneo. Pela primeira vez, 500 euros pagaram facilmente por tudo o que eu queria, começando por uma confusa, mas não torturante, viagem de ônibus com sete baldeações com saída de Dubrovnik, Croácia, a apenas 480 quilômetros de distância (fora um táxi, eu não consegui encontrar um modo mais eficiente de viajar, e apesar das barreiras de língua, os motoristas eram atenciosos o suficiente para assegurar que eu tomasse o próximo ônibus). Também aluguei um carro por quatro dias e dormi em quartos alugados por famílias locais toda noite. Fiz ótimas refeições em restaurantes gastando cerca de oito euros no máximo, e bebi espressos e água mineral à vontade nos cafés à beira-mar com vistas gloriosas. Mesmo assim, eu não cheguei nem perto de atingir o limite da minha verba (apesar de que seria mais difícil em julho ou agosto, quando muitos quartos custam mais caro).

Para a maioria dos viajantes, o ponto de partida da Riviera Albanesa é Vlore, uma cidade um tanto deselegante, com muitos cafés ao ar livre que possuem almofadas bonitas, mas um excesso de música estúpida de clube; e a orla marítima não atraente, amontoada, possui praias de areia dura, apesar de lotadas. Há certo caos em Vlore - virtualmente não há nenhuma placa indicando nomes de rua, os motoristas são malucos e há construções de concreto feias e aparentemente abandonadas. Mas isso não causa surpresa em um país que ainda é um dos mais pobres da Europa e que saiu da ditadura comunista de Hoxha há apenas um quarto de século. Apesar de a Albânia não mais parecer isolada ou assustadora, ela ainda parece estar à procura de seu caminho.

Há dois destaques em Vlore: um parque ao longo da rua principal, Bulevardi Vlore-Skele, onde velhos fumam como chaminés em torno de jogos altamente disputados de xadrez e dominó, e que recebem calorosamente um visitante com uma câmera.

E o Museu da Independência, em um sobrado onde Ismail Qemali governou como primeiro-ministro após o país conquistar sua independência do Império Otomano em 1912. Como único visitante naquela tarde, fui recompensado com uma visita com guia pessoal pelo diretor, Ilia Cano, que fez uma tentativa valente de explicar a história em um inglês limitado, misturado com francês (ele também me sentou à mesa de Qemali e me fez fingir assinar documentos com sua pena).

  • Seth Kugel/The New York Times

    A vila de Vuno, próxima a praia de Gjipe, na Albânia

Eu permaneci em Vlore na primeira e última noite da semana, mas a verdadeira recompensa da viagem veio na forma da série de pequenas cidades que começam assim que você dirige subindo as estradas perigosamente íngremes e margeadas por florestas do Parque Nacional Llogara. Após perguntar pelo preço dos hotéis e quartos de aluguel em algumas cidades, eu escolhi Himare como minha base. Um jovem chamado Simos, cuja família dirige um cibercafé, me ofereceu um grande apartamento anexo de sua casa, praticamente no centro da cidade, por 20 euros por noite (a moeda albanesa é de fato o lek, com o euro cotado a 142 leks e o dólar a 96 leks, mas o aluguel de carros e a hospedagem costumam ser cotados em euros). Himare não tinha as melhores praias, mas me impressionei com os cafés com vista para o mar e a abundância de barracas de souvlaki. E meu coração foi conquistado para sempre quando avistei um homem conduzindo um burro pela cidade, tentando vender os dois cabritinhos balindo que o animal carregava nas costas, para quem pagasse mais.

Meu lugar favorito na cidade foi o restaurante grego de propriedade familiar Taverna Viron. Eu fiz três refeições lá, atendido por Amalia, a filha de 15 anos dos proprietários, que era muito doce e falava inglês, mas não de muita ajuda em me auxiliar a escolher algo do cardápio. Ela dizia que tudo era delicioso.

Mas ela estava certa: as costeletas de porco com tzatziki e batatas, o camarão saganaki (pequenos camarões em molho de tomate, queijo feta e condimentado com molho de pimenta) e o peixe inteiro grelhado estavam todos, de fato, deliciosos.

Eu comia sozinho, mas frequentemente conversava com grupos interessantes, de uma família albanesa americana de Pelham Parkway, no Bronx, aos primos de Amalia, que me convidaram para beber rakia, uma bebida destilada do resíduo da uva.

Apesar da Albânia ser conhecida por seus tesouros históricos e arqueológicos, como a antiga cidade de Butrint, este trecho da costa em particular tinha poucos. Mas eu adorei o Castelo Himare, um sítio medieval no norte da cidade, do outro lado da rua de um posto de gasolina Alpet e subindo o morro.

Nem pense em procurar por placas, seja apontando para as ruínas ou dizendo o que são. Mas na falta de informação de fato, você pode brincar de arqueólogo amador, imaginando: “Isto devia ser um forno. Ou um quarto de criança”.

Apesar da primeira ida à praia Gjipe ter sido divertida, eu logo passei a preferir a praia Jali, 4,5 quilômetros estrada principal acima. A praia, cheia de guarda-sóis para alugar, é boa para famílias; eu estimei que uma criança pequena caía nos braços de um dos avós aproximadamente uma vez por minuto. E a água rasa é de um tom de azul que projetistas de embalagens de balas de hortelã bem que gostariam de copiar.

Eu me amarrei em Jali não pela praia, mas pelos amigos instantâneos que fiz na Taverna Peshkatari, um dos vários restaurantes informais à beira-mar especializados em peixes e frutos do mar (Peshkatari significa pescador em albanês). Eu sempre peço o cardápio antes de me sentar, para avaliar os preços e a amistosidade dos funcionários. O pessoal da Taverna Peshkatari era amistoso: eles trouxeram imediatamente um balde de peixes da cozinha, apontando que o proprietário os tinha pescado naquela manhã.

Eu ouço isso o tempo todo, então exibi um olhar de dúvida. “Amanhã, venha pescar e você verá”, disse um homem jovem de olhos azuis em um inglês passável. “Esteja aqui às 6 horas.”

Isso é o que nós do ramo das viagens frugais chamamos de 'momento do lucro'. Passeio de barco de graça! Fazendo amizades locais! Histórias “quando eu estava pescando na Albânia” para contar em casa! Na manhã seguinte eu cheguei às 5h55, eu descobri que cheguei muito antes do jovem Jorgo Andoni, que era o proprietário do Taverna Peshkatari. Mas três sujeitos mais velhos que me reconheceram do dia anterior, estavam lá bebendo café espresso e rakia. Eles me convidaram a me juntar a eles. Ei, uma dose de bebida às 6 horas da manhã para começar o dia? Por que não, eu estava em férias.

Logo depois eu estava na água com Jorgo e seus dois assistentes - Geni Pirra e Eljon Likmeter - recolhendo as redes que tinham aberto na tarde anterior, pouco além da costa rochosa, e os observando recolhendo sua pesca: merluza, sépia, camarão e até mesmo um peixe voador.

Por volta da quarta rede, Eljon e eu abandonamos o trabalho e mergulhamos na água, nadando até uma minúscula enseada margeada por areia, entalhada nas rochas. Eu tirei outra foto mental para arquivar nas 'Melhores Lembranças de Viagem'. E, desta vez, sem austríacos queimados de sol para arruinar o momento.

 

Se você for

Você pode voar para a Albânia de muitas cidades europeias, mas sugiro combiná-la com uma viagem à Grécia, Itália ou outro país dos Bálcãs. De Atenas, há ônibus diários da Ruci Tours para Vlore ou Himare (30 euros, aproximadamente 11 horas) e há uma balsa de Brindisi, Itália, para Vlore (seis dias por semana, 45 euros). E há ônibus da Croácia e Montenegro; eu precisei de sete baldeações e pouco menos de 43 euros de Dubrovnik até Vlore. Os resultados podem variar. Em Vlore, eu aluguei um carro por 33 euros por dia (o preço cai quanto mais longo o aluguel) da Tirana Car Rental. Poucos hotéis e ainda menos quartos particulares para aluguel possuem sites, apesar daqueles dispostos a fazer reservas online poderem ter alguma sorte em www.albania-hotel.com. Em Himare, é possível enviar um e-mail para Simos em hokyspokys@hotmail.com a respeito dos quartos da família; Amalia e sua família também alugam quartos agradáveis acima do restaurante grego; ligue para (355-69) 221-8728 ou (355-69) 425-5755. Jorgo Andoni aluga quartos; procure por ele na Taverna Peskatari, (355-68) 200-0343. Mas a menos que você vá em agosto, provavelmente é melhor apenas aparecer lá.