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Descubra algumas das mais curiosas fontes de Roma

ANELISE SANCHEZ

Colaboração para o UOL, de Roma

04/08/2011 20h10

Passeando pela capital italiana, uma das curiosidades que salta aos olhos dos visitantes é o incrível número de fontes espalhadas pelos quatro cantos da Cidade Eterna. Algumas são monumentais e não passam despercebidas. Outras, mais discretas e pouco conhecidas, dificilmente integram o roteiro dos turistas apressados de passagem por Roma.

Não é de hoje que as fontes representam um elemento indispensável da arquitetura urbana romana. Durante séculos, os habitantes da cidade serviam-se da água proveniente do rio Tibre e daquela de alguns poços e nascentes, mas com o rápido crescimento demográfico registrado na cidade, foi necessário recorrer a outras técnicas para garantir o seu abastecimento hídrico.


Foi assim que, em 312 a.C, os romanos projetaram o seu primeiro aqueduto, denominado Acquedotto Appio, demonstrando uma inigualável habilidade na construção desse tipo de obra arquietônica. Já no final do século I d.C, a cidade era abastecida por onze deles, que levavam diariamente, até a capital, nada menos que mil litros de água por habitante.

Um dos momumentos mais famosos de Roma, a Fontana di Trevi, ainda hoje é abastecida por um daqueles condutores de água projetado há mais de vinte séculos, o chamado Acquedotto Vergine.

Na rota dos apaixonados
A Fontana de Trevi é um bom ponto de partida para explorar algumas das mais belas fontes da Cidade Eterna e descobrir curiosidades sobre elas. Não é raro que as fontes romanas sejam mistificadas por lendas, anedotas ou superstições, e aquela de Trevi não é uma exceção.

Conta-se que Nicola Salvi, arquiteto que projetou o monumento, foi muito criticado por um barbeiro cujo estabelecimento situava-se na Via della Stamperia. Durante a obra, seus inumeráveis palpites sobre a fonte o incomodavam. Assim, colocou na Fontana di Trevi o ornamento conhecido como ‘ás de copas’, atrapalhando a visão do local pelo barbeiro e impedindo- lhe de continuar bisbilhotando.

O ritual de jogar uma moedinha na fonte para garantir um retorno à Roma é planejado por quase todos os turistas, mas poucos sabem que ali ao lado, à direita da Fontana di Trevi, uma fonte menor mas não menos graciosa é palco de uma tradição muito mais antiga. Trata-se da Fontanella degli Innamorati, protagonista de um ritual romântico que garante fidelidade eterna aos casais que beberem juntos a sua água.

No passado, as noivas de namorados convocados para servir o exército ou afastar-se por um longo período, seguiam uma supertisção bem precisa. Na noite antes de sua partida, a namorada acompanhava o amado até a fonte e abastecia um copo novo com a água da fonte. Assim que ele a bebia, a noiva quebrava-o para que o namorado não a esquecesse nunca mais.

Nos arredores do centro histórico
Assim que deixar os arredores da Fontana di Trevi, siga até a Via del Corso e entre na Piazza Colonna, onde está localizado o Palazzo Chigi, sede da presidência do conselho dos ministros italianos. Ali você encontrará a fonte encomendada pelo Papa Gregorio XIII. Originariamente, a obra foi desenhada em homenagem a Marco Aurélio. No entanto, a sua proposta inicial não foi aceita, a fonte foi posicionada na parte incial da praça e, mais tarde, alguns de seus elementos foram substituídos por um grupo de golfinhos esculpidos por Achille Stocchi.

Deixando Piazza Colonna, continue caminhando pela Via del Corso, em direção à Piazza Venezia, e dê uma paradinha na Via Lata. Ali, no muro do Palazzo de Carolis, você encontrará uma das chamadas estátuas falantes de Roma: a pequena Fonte del Facchino, ou melhor, aquela que representa a clássica figura do entregador de água. No passado, a fonte permanecia em frente da igreja de San Marcello, sempre na via del Corso, mas em 1872 foi transferida para evitar que fosse tocada continuamente pelas carroças que circulavam pelo centro da cidade. Muitos atribuiram a sua autoria a Michelangelo, mas depois de uma perícia mais detalhada, apurou-se que a obra, no entanto, foi desenhada por Jacopo Del Conte entre 1587 e 1598.

Não muito longe dali, mais precisamente na frente da basíica de San Marco, aquela ao lado da Piazza Venezia, está localizada a Fontana della Pigna. O monumento foi construído em 1927 e representa o símbolo daquele bairro. No passado, aquela região hospedava uma outra grande pinha que hoje encontra-se nos jardins do Vaticano.
 

  • Alfredo Santucci/UOL

    A fonte da grande máscara fica na Via Giulia, inaugurada pelo papa Giulio II em 1500

O fascínio de Via Giulia
Se não for avesso a caminhadas, um passeio imperdível é apreciar as encantadoras sacadas floridas de Via Giulia, onde encontra-se uma das mais famosas fontes romanas, o Mascherone (Grande máscara). Partindo da Fontanella della Pigna, volte até a Via del Plebiscito e percorra esta rua até chegar a Via Giulia para respirar seus mais de quinhentos anos de história.

Graças as suas pitorescas oficinas de artesãos e as suas casas imponentes, Via Giulia é considerada uma das ruas mais belas de Roma e a sua ‘grande máscara’ também não decepciona os turistas. A fonte foi inaugurada em 1626 e conta-se que, durante as festas da importante família Farnese, no lugar da água a fonte jorrava vinho.

De lá, bastam poucos metros para chegar até uma das mais elegantes praças romanas; a Piazza Farnese. Na verdade, o lugar lembra uma sala de visitas. A praça é decorada com duas belissimas fontes construidas com granito egipicio que, segundo alguns historiadores, inicialmente pertenciam as termas de Caracalla.

Regressando até Corso Vittorio Emanuele II, na frente da Chiesa Nuova (Igreja Nova) você encontará uma outra obra de arte; a chamada Fontana della Terrina. O seu autor é Giacomo della Porta e antes que fosse colocada em atual localização encontrava-se no Campo de’ Fiori, no lugar onde hoje localiza-se a estátua do filósofo Giordano Bruno, morto por heresia em 1600. Exatamente ali, na praça que abriga diariamente a feira mais famosa da capital, o turista encontrará uma outra fonte, desta vez oval e de granito rosado, inauguarda em 1924. Em dias de sol, muitos turistas sentam-se por lá para apreciar as cores e sabores do mercado a céu aberto.


  • Alfredo Santucci/UOL

    As formas da Fontana Sallustiana, em Roma, inspiram-se no último período da arte barroca

Entre beleza e crenças populares
Com toda certeza o seu roteiro por Roma incluirá passeios pela fonte de Piazza Navona e a Piazza di Spagna com a sua fonte conhecida como a barcaccia. No entanto, se além desses percursos ainda tiver pique para descobrir outras grandes fontes da capital, não deixe de conhecer aquelas que enriquecem a arquitetura da Piazza del Popolo (metrô Flaminio), que sozinha concentra outras cinco fontes. Aquela construída ao redor do obelisco, decorada com os leões, foi projetada pelo arquiteto Giuseppe Valadier para substituir uma antiga fonte de Giacomo della Porta, enquanto as demais laterais, situadas nas duas extremidades da praça, homenageiam Netuno e a deusa Roma, rodeada por uma loba que amamenta dois recém nascidos. Como se não bastasse, ao lado da porta Flaminia encontram-se outras duas fontes menores, quase idênticas, que representam sarcófagos.

Outra fonte antiga e muito curiosa fica situada não longe dali, na Via del Babuino. O protagonista da fonte é um sileno, ou seja, uma figura da mitologia grega representado quase sempre bêbado, mas os romanos consideraram a escultura desse personagem tão feia que a chamaram de ‘fonte do babuino’, por sua semelhança com um macaco.

Por sua extrema beleza, visite também a Fontana del Tritone (metrô Barberini), desenhada por ninguém menos que Bernini, em 1643. Conta-se que exatamente dali partiam as carroças que transportavam os cadáveres desfigurados que seriam expostos em diversos locais da cidade, a espera de uma identificação.

A poucos passos dali, no cruzamento entre Via delle Quattro Fontane e Via del Quirinale, encante-se com as quatro fontes que representam os rios Tibre e Arno e as deusas Diana e Juno.

Enfim, fontes mais recentes mas não menos belas são a Fontana delle Naiadi (metrô Repubblica) e a fonte de Via Bissolati. A primeira está localizada a poucos metros da estação Termini, foi inauguarda em 1901 e simboliza o domínio do homem sobre a natureza. A segunda, por sua vez, é uma fonte quase escondida que merece ser fotografada. Situada exatamente na via Friuli, no final do muro que hoje abriga a sede da embaixada americana, a fonte também foi inspirada no estilo de Bernini.

Depois de seguir este mini roteiro, sua vontade de descobrir outras fontes será, sem dúvida, ainda maior. Mais um motivo para retornar à Roma, pronto para descobrir outros tesouros artísticos.