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Cenário de deserto, mar e diversidade animal dividem a atenção dos turistas em Paracas, no Peru

MARIA EMÍLIA COELHO

Colaboração para o UOL Viagem *

08/06/2011 19h09

Paraca, palavra do idioma quíchua que significa chuva de areia. Na desértica costa do Pacífico, um lugar chamado Paracas sopra forte suas areias. Mas depois da nebulosa tempestade, vem o paraíso. Praias, ilhas rochosas e imensas falésias são habitat de diversas aves, lobos marinhos, pinguins e golfinhos. A baía é um destino sem igual no Peru, e atrai o viajante que quer ver a vida que brota do encontro do mar com o deserto.


A 260 km ao sul de Lima, a Reserva Nacional de Paracas, fundada em 1975, é a única Área Natural Protegida peruana que conserva uma amostra de um dos mais importantes processos oceanográficos da Terra. A temperatura dessa parte do litoral do Pacífico é mais baixa por causa da corrente de Humboldt, aquela que leva águas frias da região antártica para a equatorial. Nesse caminho, Humboldt também arrasta muito plâncton, a base da cadeia alimentar dos ecossistemas marino-costeiros, tornando o mar de Paracas um dos mais ricos e produtivos do mundo.

A excepcional diversidade biológica dos 335 mil hectares da Reserva (70% marinha e 30% terrestre) se revela em números. São mais de 1.500 espécies registradas, entre algas, plantas, anelídeos, moluscos, artrópodes, peixes, répteis, aves e mamíferos. Muitas delas estão em perigo de extinção, como o pinguim de Humboldt, o gato andino e a gigante tartaruga-de-couro, que visita Paracas desde as Ilhas Galápagos e outros mares da América Central.

A maioria dos visitantes que chega à baía quer ver os lobos marinhos. Nos arredores da Reserva, as Ilhas Ballestas são a excursão mais procurada, pois é lá que vivem milhares dos mais de 50 mil lobos do lugar. Barcos lotados de estrangeiros partem todas as manhãs de El Chaco, a zona urbana de Paracas, rumo às ilhas rochosas. Quem garante lugar, não se arrepende. Ficar a poucos metros de um grupo de lobos é um momento singular de contato com a natureza selvagem.

Na viagem de barco até Ballestas, uma figura de 120 metros cravada em uma montanha arenosa chama a atenção dos tripulantes. É parada obrigatória para fotos. A origem do geoglífo, chamado El Candelabro, ainda é um mistério entre os arqueólogos. A figura tem similaridade com as Linhas de Nazca, mas supostamente origem diferente. Seriam a ‘‘representação estilizada do cacto São Pedro, bebida alucinógena usada em rituais de sociedades pré-incas, ou piratas do século 17 que queriam indicar um tesouro. Outra teoria afirma que se trata de um símbolo secreto da maçonaria feito pelos lutadores da Independência do Peru’’, explica o guia do passeio.

As agências também oferecem um tour pelas atrações que estão dentro da Reserva. A mais famosa é a Catedral, uma formação rochosa modelada durante 84 milhões de anos pela ação do vento e do mar. Parte do arco e da abóbada, que serviam de refúgio de aves migratórias e lobos marinhos, foi destruída pelo violento terremoto que afetou a zona de Pisco, onde está localizada a Reserva, em agosto de 2007. Felizmente, a linda paisagem e parte do monumento natural continuaram intactas.

Se você for

Ilhas Ballestas
Paracas Overland
Tel: 51 56 533855
www.paracasoverland.com.pe
Kitesurf
Peru Kite
Tel: 51 1 994567802
www.perukite.com

Hotéis em Chaco


Posada del Emancipador
Av. Paracas, 25, El Chaco
Tel: 51 1 998293029
www.posadadelemancipador.com

El Condor
Lote 4, Urb. Bahia Santo Domingo, Paracas
Te: 51 1 998293029
www.hotelelcondor.com


Na praia de Lagunilla estão concentrados os barcos dos pescadores, e também os restaurantes para amenizar um pouco o sol que frita no deserto. O almoço do turista dá direito a banho de mar, cerveja gelada e ceviche, o tradicional prato da culinária peruana, preparado com o peixe pescado na hora, suco de limão, alho e aji. Para quem quiser passar a noite dentro da Reserva, a praia de Yumaque, com suas imensas falésias e seu espetacular fim de tarde, é o melhor lugar para acampar.

Na década de 1920, Julio C. Tello, o pai da arqueologia peruana, passou anos investigando a zona e descobriu a antiga civilização Paracas, formada no século 500 a.C. Em suas escavações, o arqueólogo encontrou uma necrópole com mais de 400 múmias, além de um impressionante legado têxtil. ‘‘Os desenhos impressos nos mantos funerários eram uma forma de escritura dessa cultura, uma comunicação dos homens com seus deuses’’, ensina José Quispe, pescador, guia turístico, e legendário narrador de contos da baía.

Paracas também é lembrada por ter sido o lugar onde desembarcou o revolucionário comandante argentino José de San Martín. Em sua missão de tornar independentes as colônias da Coroa espanhola, o general aporta na Baía de Paracas em 1820, estabelecendo o quartel da sua histórica Expedição Libertadora.

Hoje, os arredores da Reserva servem de balneário de verão de peruanos endinheirados, além de destino turístico daqueles que buscam natureza aliada a esporte e aventura. Pelas ruas de Chaco, onde estão os hotéis e restaurantes da cidade, há agências que promovem uma excursão para quem quer desbravar dunas de areia com um buggy e uma prancha de sanboard.

Para os esportistas do mar e do vento, Paracas é perfeita. A baía está na lista dos melhores lugares do mundo para a prática do kitesurf, com ventanias em quase todos os dias do ano. No final da praia de El Chaco, já quase no limite com a Reserva, as velas dos surfistas fazem pontos coloridos na paisagem ocre e azul turquesa. Um verdadeiro convite para esquecer um pouco do verde da costa tropical brasileira.

*A jornalista Maria Emília Coelho viajou a Paracas a convite das agências Paracas Overland e Adrena Arena e do Posada del Emancipador.