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Um acampamento de luxo no deserto de Omã

JOSHUA HAMMER

New York Times Syndicate

22/05/2011 09h06

A estrada pavimentada terminou abruptamente logo depois da cidade de Al Mudairab, na borda da Região Vazia no leste de Omã. Descendo do meu Nissan 4 x 4, no ponto onde a estrada de areia começava, eu olhei para uma paisagem de dunas cor de café e esquálidos acampamentos beduínos que se estendia em direção ao horizonte.

Eu estava a caminho do 1000 Nights Camp, um resort ao estilo beduíno, 39 quilômetros deserto adentro. Eu esvaziei os pneus para as 18 libras adequadas para dirigir na areia do deserto e tinha um mapa impresso a partir do site da empresa, para me mostrar como chegar lá. Mas a trilha parecia desaparecer a uma centena de metros de onde eu estava.
 

Momentos depois, Suleiman chegou.

Suleiman, um omani imponente vestido com turbante branco e dishdasha (um manto tradicional árabe), estava prestes a conduzir pelo deserto um comboio de 40 veículos lotados com seus parentes e amigos para um fim de semana prolongado. A maioria dos veículos já estava reunida em torno dele e ele estava à espera de retardatários. “É melhor não fazer isso sem um guia”, ele me disse, e momentos depois me convidou para segui-lo junto com os demais.

Suleiman entrou em seu Jeep e seguiu pela trilha. Eu tive dificuldade para acompanhá-lo, escapando de traseira a 40 quilômetros por hora, seguindo por caminhos estreitos por entre as dunas. Por várias vezes Suleiman desapareceu atrás de um véu de poeira, saindo da nuvem de poeira apenas poucos metros à minha frente.

Após uma hora depois, chegamos a uma pequena placa (fácil de perder) que apontava para a esquerda e subimos centenas de metros por um monte gigante de areia ocre que oferecia uma vista panorâmica do deserto. A poucos quilômetros mais adiante estava a saída para o 1000 Nights. Suleiman tocou sua buzina para se certificar de que eu não a perderia. Então ele partiu velozmente, seguido por seu comboio.

O Ramlat al Sharqiya da Região Vazia é uma das regiões mais desoladas e belas do mundo: 12.500 quilômetros quadrados de dunas ondulantes que chegam a 300 metros de altura do chão do deserto. É também uma das atrações que não devem ser perdidas de Omã, um sultanato rico em petróleo e pacífico que faz fronteira com a Arábia Saudita a oeste, com o Iêmen ao sul, e com os Emirados Árabes Unidos ao norte.

Quarenta anos atrás, Omã era um dos países mais atrasados do Oriente Médio, com menos de dezenas de quilômetros de estradas pavimentadas e um interior quase impenetrável, povoado por tribos em guerra fortemente armadas. Então, em 1970, Qaboos bin Said, o herdeiro do trono omani de 29 anos de idade, formado em Sandhurst, derrubou seu pai em um golpe sem derramamento de sangue.

Qaboos explorou rapidamente a riqueza petrolífera do país e levou asfalto, eletricidade, escolas e postos de saúde para várias partes do país. Ele promoveu a educação das meninas, igualdade de gênero e a tolerância religiosa.

Uma indústria de turismo de luxo também se enraizou aqui, centrada em resorts de praia com diárias de US$ 1.000, trilhas para caminhadas pelas montanhas, centenas de fortes e sítios arqueológicos, e acampamentos em Ramlat al Sharqiya - onde os hóspedes podem experimentar a tranquilidade e esplendor do deserto.

Era quase o por do sol quando cheguei ao 1000 Nights. Trinta tendas ao estilo beduíno, feitas de lã de carneiro ricamente estampadas, foram espalhadas por um oásis de árvores nativas ghaf. O proprietário, Abdullah Al Harthy, que abriu o 1000 Nights em 2006, me recebeu com um suco de romã e me orientou para seguir imediatamente para as dunas, para pegar os últimos raios de sol.

Usando uma corda fixa para me ajudar a subir pela areia lisa acetinada, deixando pegadas perfeitas a cada passo, eu subi 30 metros acima do campo e me sentei em uma elevação em silêncio, observando a paisagem escurecer e o sol desaparecer tingindo o céu de anil, rosa e escarlate.

Quando desci, os 30 hóspedes (a maioria famílias e casais franceses, alemães e britânicos) se reuniram no pavilhão ao ar livre para um bufê de jantar. Cinco músicos beduínos se ajoelharam sobre um tapete persa, tocando rebabs, instrumentos tradicionais de cordas, e cantando canções tradicionais omanis durante o anoitecer.

Saboreando uma sopa de lentilha e um guisado de carneiro, eu conheci Ian Duncan, um engenheiro do exército britânico que atualmente mora em Mascate, a capital, servindo como treinador para as forças armadas omanis. Duncan e sua esposa, Carol, estavam em Omã há 18 meses e tinham acabado de assinar contrato para uma estadia de mais dois anos. Omã, ele disse, parecia relativamente livre do descontentamento presente em grande parte da região: “O fato de o sultão Qaboos estar no poder há 40 anos e ainda ser universalmente admirado e amado é surpreendente”, ele me disse.

Essa relativa falta de crítica pode derivar em parte das leis de censura de Omã, que tornam qualquer comentário negativo sobre Qaboos punível com pena de prisão. O sultão impede o desenvolvimento de estruturas políticas alternativas, mas observadores dizem que ele também tem conduzido seu país de forma sábia, em grande parte, e é considerado um déspota benevolente. Enquanto protestos e confrontos violentos eclodiam por todo o Oriente Médio nas semanas após minha visita - e que prosseguem enquanto escrevo - Omã permanecia calmo.

  • Holly Pickett/The New York Times

    Área comum do 1000 Nights Camp, um resort ao estilo beduíno no deserto de Sharqiya Sands, em Omã


Duncan reconheceu que a falta de um sucessor para o sultão (ele não tem filhos) e as lembranças do último golpe de Estado causam ansiedade entre os cidadãos de Omã e levavam o próprio Duncan a se perguntar por quanto tempo Omã permaneceria um paraíso turístico. “O sultão chegou ao poder pela força das armas, agindo contra seu pai com a ajuda britânica”, disse ele. “Ele sabe que a força das armas ainda é uma possibilidade para derrubá-lo.”

Esta era a quarta viagem do casal Duncan ao 1000 Nights, desta vez acompanhado pelo irmão de sua mulher e a esposa dele, que vieram da Inglaterra. “É o melhor e mais remoto acampamento no deserto, e o mais natural, apesar dos dois prédios horrorosos que construíram”, Duncan me disse, apontando para as Casas de Areia, duas caixas de vidro e concreto de três andares, que destoam de modo gritante da arquitetura tradicional árabe-islâmica que domina o acampamento.

Quando perguntei ao proprietário sobre as Casas de Areia, cuja diária é de 150 rials omanis (aproximadamente US$ 380, com o rial cotado a US$ 2,54), ele respondeu que elas eram muito populares entre os VIPs do governo omani. “As janelas são do chão ao teto e sua cama fica a um metro da areia”, ele disse. “É uma fantasia.”

Mesmo assim, Al Harthy tentou manter um senso de harmonia com o ambiente, proibindo buggies nas dunas e veículos para todos os terrenos, por exemplo, porque “os nossos hóspedes querem experimentar o silêncio”. O resort possui cavalos e os beduínos locais fornecem camelos para aqueles que querem se aventurar mais profundamente no deserto. Duncan prefere ler, mergulhar na piscina e fazer caminhadas ocasionais nas dunas. “Chegar aqui é uma experiência emocionante”, ele disse. “Então eu chego e não faço absolutamente nada.”

Depois de dividir uma garrafa de vinho tinto com os Duncans (trazido para este país abstêmio por seus visitantes), eu voltei à minha tenda, seguindo uma trilha de lampiões a gás e maravilhado com a tapeçaria de estrelas brilhantes, não ofuscadas por nenhuma luz ambiente.

Minha tenda era um santuário acolhedor, simples, mas bem decorado com uma cama tamanho queen, uma escrivaninha, uma mesinha de centro e duas poltronas no centro da sala. A luz entrava pela porta e pela única janela cortada na lã. Meia dúzia de mastros de pinho sustentavam o topo abaulado da tenda, e o padrão uniforme no piso de lã, cobertura e paredes - diamantes e listras vermelhos, verdes e ocres contra um fundo creme - dava ao lugar uma atmosfera calorosa. Havia um chuveiro quente e toalete no fundo de todas as tendas, a céu aberto.

Eu deixei o flap da minha tenda semiaberto durante a noite e acordei às 7h da manhã com a luz suave do deserto. Um bufê de café da manhã - frutas frescas e omeletes, assim como cozinha árabe tradicional como foul, um ensopado de favas - era servido no restaurante ao ar livre.

Uma hora depois, com o ar ainda frio, eu encontrei Carol Duncan nos estábulos e partimos sem um guia para um passeio a cavalo. Nós seguimos por uma trilha que passava por tufos de grama verde e arbustos espinhosos, assim como pelos vestígios de um acampamento beduíno cercado por arame farpado. Então o último sinal de civilização desapareceu e nos vimos em um mar de areia.

As dunas de ambos os lados apresentavam uma paleta de bege, caramelo, rosa e castanho-avermelhado e eram gravadas com delicadas espirais que pareciam impressões digitais e cordilheiras. Com um golpe do meu açoite, minha égua de três anos de idade, Reem, interrompeu seu galope, subindo gradualmente em direção ao topo de uma duna. A paisagem se abriu, revelando uma vista aparentemente infinita de montes de areia ondulados, subindo e descendo como as dobras em uma colcha. Saboreando o silêncio, nós viramos os nossos cavalos e eles retomaram seu galope.

Era muito cedo para o almoço quando voltamos ao 1000 Nights, de modo que Carol e eu, juntamente com Ian e os visitantes britânicos de Duncan, seguimos para a piscina. Nós assamos no calor do deserto e depois mergulhamos na água gelada, repetindo a rotina revigorante meia dúzia de vezes. Eu iria de lá para Nizwa, o antigo centro religioso de Omã, a cerca de três horas de distância, e estava ansioso para partir. Pouco depois do meio-dia, voltei ao meu 4 x 4 e parti sozinho, mais confiante para o deserto em percorrer o caminho pelo deserto.

“Para a cidade”, dizia uma placa na areia sem trilha e, de repente, a estrada de asfalto reapareceu.

 

No Deserto

Os turistas em Omã podem obter o visto no aeroporto internacional de Mascate; o preço é de 20 rials omanis, ou cerca de US$51, com o rial cotado a US$ 2,54. Para minha tenda no 1000 Nights Camp (968-99448158; 1000nightscamp.com), eu paguei 67 rials omanis, aproximadamente US$ 170. Você vai precisar alugar um veículo 4 x 4 para o trajeto de 39 quilômetros de Al Mudairab até o deserto. É possível encontrar boas opções na Avis em Mascate: eu aluguei um utilitário esporte da Nissan pelo equivalente a US$ 120.