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No inverno, região serrana da Paraíba tem clima ameno, festival e cachaça

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Eduardo Vessoni
Do UOL, na Paraíba*

Dizem que em Bananeiras o tempo não passa. Casarões da época do auge dos engenhos continuam se exibindo com fachadas coloridas, ladeiras de pedras ainda dão acesso a serras de clima ameno e a cachaça segue envelhecendo em resistentes barris de carvalho, antes de lacrimejar em pequenos copos de dose única.

Em terras nordestinas, em que praias de mar esverdeado e piscinas naturais são os principais cartões-postais, a descrição anterior nem parece a da Paraíba, onde o interior registra temperaturas que variam entre (improváveis) 12ºC e 18ºC no inverno.

Localizada na região serrana do Brejo paraibano, Bananeiras está a 120 km de João Pessoa e é um dos sete municípios que fazem parte da rota “Caminhos do Frio”, evento que acontece na região com festivais gastronômicos, trilhas ecológicas, visitas aos engenhos locais e shows musicais (veja programação abaixo).

No entanto, o Brejo surpreende durante todo o ano com suas pequenas cidades históricas e construções preservadas.

Em Bananeiras, ladeiras e casarões remanescentes da época dos engenhos dão ares europeus à cidade. Localizada a pouco mais de 500m acima do nível do mar, seu centro histórico abriga mais de 80 construções catalogadas pelo Iphaep (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba).

Eduardo Vessoni/UOL
Vista do Engenho Martiniano, produtor da cachaça Cobiçada, em Serraria

Já Areia, a primeira cidade paraibana a ser declarada Patrimônio Cultural Nacional, possui um dos conjuntos arquitetônicos mais belos e bem preservados de todo o estado. Lá se localizam atrações como o Teatro Minerva, de 1859, e a antiga casa de Pedro Américo, artista responsável pelo quadro 'Grito do Ipiranga'.

O roteiro histórico é formado também pelas cidades deAlagoa Grande, Alagoa Nova, Pilões, Serraria e Solânea.

Região tradicional de engenhos de cana-de-açúcar, o Brejo se destaca pelos produtores familiares que ainda fabricam, artesanalmente, a mais internacional das bebidas brasileiras: a cachaça.

Algumas empresas até tentam dar cara industrial aos seus negócios com investimentos no processo mecanizado da moenda e fermentação de levedura, mas a tradição dá o tom nas visitas guiadas por instalações simples.

A Rainha, bebida produzida desde 1877 no Goiamunduba, engenho declarado patrimônio histórico do município, é uma das marcas mais populares não só em terras paraibanas, mas também no resto do Brasil.

Os tours guiados acontecem de forma informal e em um ritmo acelerado, mas dá para se ter uma ideia da fabricação da aguardente, que envelhece em barris de madeira em uma sala de iluminação baixa.

Eduardo Vessoni/UOL
Restaurante da Vó Maria, em Areia (PB), é destaque por seu café da tarde

Outro clássico da região é a cachaça Volúpia, produzida comercialmente desde 1946 na área rural de Alagoa Grande. A empresa já ganhou o primeiro lugar no ranking de cachaças brancas da revista Veja, em 2010 e, por três vezes, ficou entre as dez melhores do Brasil na lista preparada pela revista Playboy.

O tour de 30 minutos pelas instalações termina no restaurante Banguê do engenho, com pratos como o carneiro assado (na cachaça, diga-se de passagem) e o sorvete com sabor que você já deve imaginar qual é.

E nem poderia ser diferente nestas inusitadas terras de clima ameno que parecem não ter pressa.

Conheça as atrações do Caminhos do Frio – Rota Cultural 2014”
A edição deste ano será entre os dias 14 de julho e 31 de agosto. Confira a programação:
Areia (de 14 a 20/7): Grupo Tarancón / Céu / Ivan Lins
Pilões (de 21 a 27/7): Flávio Venturini
Solânea (de 28/7 a 3/8): Santana
Serraria (de 4 a 10/8): Antônio Carlos e Jocafe
Bananeiras (de 11 a 17/8): Nando Cordel
Alagoa Nova (de 18 a 24/8): Amazam
Alagoa Grande (de 25 a 31/8): Luiz Melodia

15º Festival de Artes de Areia: O tema deste evento, queacontece entre os dias 14 e 20 de julho, é a América Latina. A programação contará com oficinas, shows musicais, exposições e palestras.

Eduardo Vessoni/UOL
Areia é a primeira cidade da Paraíba declarada Patrimônio Cultural Nacional

Bananeiras: Um dos destaques arquitetônicos da cidade é o Serra Golfe Hotel, estabelecimento localizado em um casarão de 1911, reformado para receber os golfistas que começaram a frequentar a cidade após a inauguração do primeiro campo de golfe da Paraíba, em uma área preservada de 22 mil m² anexa ao hotel. No local funciona também o restaurante Sabor da Terra, onde é possível provar pratos como a carne de sol com bastões de queijo coalho, galinha de capoeira, filé de tilápia empanada no coalho e a peteca de banana, receita típica da cidade, com uma massa frita de maçã polvilhada com canela e açúcar.

Areia: Localizada no topo da Serra da Borborema, a 118 km de João Pessoa, Areia é a terra dos primeiros engenhos paraibanos movidos a vapor e abriga endereços como o engenho Triunfo. Durante a visita guiada, a proprietária Maria Júlia de Albuquerque Baracho dá um show único para mostrar as instalações do engenho, em um delicioso (e alucinado) ritmo que mais parece história de cordel. Destaque para os sabonetes esfoliantes feitos com bagaço da cana moída no engenho, usados nos amenities do hotel também administrado pelos donos do engenho.

Serraria: Conhecida pelas fazendas em estilos colonial e art noveau, esta cidade abriga o Engenho Cobiçada, de 1892, onde a bebida é armazenada em tonéis de umburana.  A empresa, localizada em uma área de 310 hectares e com produção anual de 100 mil litros, recebe visitantes com uma cenografia que inclui construções da época de sua inauguração, no final do século 19, como capela, casinhas simples de alvenaria que abrigam as residências dos funcionários do engenho e um simpático bar de madeira típico do interior nordestino, onde os visitantes são sempre bem recebidos com doses generosas das versões cristal e envelhecida.

Alagoa Grande: Terra de Jackson do Pandeiro, esta cidade de 1864 ainda guarda casarões com azulejos portugueses da época do cultivo da cana-de-açúcar e abriga o quilombo Caiana dos Crioulos.

Pilões: O engenho Olho d'água já não produz cachaça como no século 19, quando a família de Corinto Lyra Filho mantinha o engenho Pinturas, cujo nome é uma referência aos desenhos rupestres escondidos no fundo do quintal. Das pequenas instalações saem agora mil quilos diários de pedaços pequenos de rapadura conhecidos como pílulas, uma espécie de mini cocada feita de cana-de-açúcar, além das versões temperadas com cravo, canela ou erva doce.

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou para a Paraíba com o apoio da PBTUR

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