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Chocolates, bolos e tortas recheiam tour de doces em Viena; veja roteiro

Rafael Mosna

Colaboração para o UOL, em Viena*

04/12/2015 20h52

A pergunta "peixe ou doce?" pode parecer inusitada, mas a cena - pra lá de real - era parte do cotidiano às sextas-feiras em escolas de Viena, capital da Áustria. Considerado quase uma entidade pelos locais, o doce, para os vienenses, ocupa o mesmo grau de importância de um suculento prato principal.

Uma prova disso pode ser vista na hora da sobremesa no restaurante Steirereck - o 15o melhor do mundo, segundo ranking da revista inglesa "Restaurant". Além do pedido feito pelo cliente, o momento acompanha uma seleção de clássicos "que toda mãe austríaca sabe fazer".

Para o vienense, sentar-se à mesa para um café e uma fatia de bolo ou torta é um ritual que deve ser degustado sem pressa. Parece não ser à toa que o destino foi eleito, pela consultoria de recursos humanos britânica Mercer, a cidade com melhor qualidade de vida, pela sexta vez consecutiva.

Em meio a inúmeras docerias e cafés na capital famosa pela música clássica, o UOL encarou a complicada tarefa de selecionar opções clássicas e modernas. Veja o resultado a seguir.

Viena antiga
Tradicionalíssimo, o café Demel tem sua cozinha, ao fundo, praticamente montada como uma vitrine, onde doces e funcionários são alvos de cliques fotográficos. Produzidas à mão por mais de 200 anos, sobremesas como a clássica Anna Torte (bolo macio de chocolate em três camadas, com toque evidente de amêndoas e licor de laranja), levam o "selo de qualidade imperial". Explica-se: o local era um dos estabelecimentos que serviam à corte do império austro-húngaro (1867-1918). Hoje, seus salões ornamentados com mogno, veludo e lustres de cristais podem ter longas filas de espera.

Nos arredores, ainda vale conhecer o Café Central, cujas mesas recebiam conversas de intelectuais e escritores tempos depois de sua inauguração, em 1876, e o Landtmann, de 1873, que também ostenta visitas do compositor Gustav Mahler (1860-1911) e do criador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939).

Parada no tempo, a Altmann & Kuhne é a confeitaria ideal para comprar chocolates para presentes. Os pequenos mimos (atenção especial aos recheios que incluem marzipã) podem ser levados em pequenas caixas fabricadas artesanalmente, com preços a partir de 5,50 euros (aproximadamente R$ 23).

Se a ideia é economizar, mas não deixar de lado a autenticidade vienense, a loja das bolachas estilo wafer Manner tem opções que começam na casa do 1 euro (aproximadamente R$ 4). A de sabor clássico napolitano, com creme de avelã, era o típico produto básico da lancheira das crianças há algumas décadas. Bem docinho, é claro.

Clássico dos clássicos
O bolo considerado por muitos como símbolo de Viena é buscado por uma legião de visitantes e passantes no café de um hotel cinco estrelas. Sua Sacher Torte, produzida num total de 350 mil unidades por ano, consiste em duas camadas de um bolo denso de chocolate intercaladas com geleia de damasco. Como cobertura, chocolate. No local, vem à mesa acompanhada de chantilly (5,60 euros; aproximadamente R$ 23).

Servida em versões similares em várias lojas e confeitarias da cidade, ela já foi motivo de batalha judicial. O resultado dessa peleja dá direito somente ao luxuoso hotel Sacher poder estampar a palavra "original" em seu quitute, que, juram eles, segue a mesma receita (até hoje guardada a sete chaves) desde 1832.

Viena nova
Toda envidraçada, a fachada da Zuckerlwerkstatt é uma vitrine que chama a atenção de quem passa no momento da produção dos confeitos à base de açúcar. A receita lembra as tradicionais balas de coco brasileiras, pois é preciso puxar a massa ainda quente repetidas vezes, deixando-a bem branquinha.

Mas o resultado, de textura e sabor diferentes (não há coco entre os ingredientes), são pequenos docinhos de sabores como maçã, gengibre, laranja, baunilha. Feitos à mão, com pequenos dizeres como "I love you" ou desenhos de frutas, têm preço a partir de 5,90 euros (aproximadamente R$ 24, o pote pequeno de vidro, com 90g).

Também na linha "adoçando olhos e boca", o pesquisador e artista Michael Diewald tem em sua loja Blühendes Konfekt bombons e confeitos delicados à base de frutas e coroados com flores.

Localizado em uma rua calma, abre somente de quarta a sexta, das 10h às 18h30, quando também é possível observar o trabalho manual no workshop anexo. Em outros dias é melhor reservar uma visita pelo telefone +43(0)660-3411985.

Fãs de chocolate artesanal encontram na vienense Xocolat barras (cerca de 5 euros com 100g; R$ 21) com diferentes porcentagens de cacau, além de opções com nozes, amêndoas e frutas, trufas e bombons com recheios que incluem licores, maracujá e laranja.

Para o café ou chá da tarde (há vinho e cerveja, para quem preferir) com a guloseima - que não pode faltar - dê uma passada no Vollpension. Trata-se de um café que serve comidinhas "da vovó", feitas por senhoras, em meio a uma atmosfera vintage e uma trilha sonora de músicas antigas.

Paixão local
Em dias quentes, Viena parece se transformar na cidade do sorvete. Para onde se olha, é difícil não avistar um grupo de pessoas com a casquinha na mão. Estilos italianos estão entre os queridinhos da cidade, como Zanoni & Zanoni e Bortolotti. Tichy é também um nome tradicional, em que os locais gostam de pedir o clássico Eismarillenknödel: uma bola de sorvete, com núcleo de damasco, envolta em avelãs torradas.

Para os moderninhos, a Eis-Greissler oferece sabores exóticos, como queijo de cabra, óleo de semente de abóbora e pistache com sal e noz-moscada (calma, a lista também inclui morango, framboesa, baunilha e chocolate).

Trabalhando apenas com ingredientes naturais, a Veganista não utiliza nenhum produto de origem animal. Produz 18 sabores diariamente, com manjericão, chocolate, cookies, pêssego, cappuccino e banana entre eles.

*O jornalista viajou com o apoio do Turismo de Viena