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Dois continentes em um dia: em Istambul, turista visita Europa e Ásia

Marcel Vincenti

Do UOL, em Istambul (Turquia)*

18/08/2015 11h27

É costume dizer que Istambul é uma cidade onde o Ocidente e o Oriente se encontram. Mas podemos ir além: a metrópole turca é um lugar no qual esses dois polos do mundo se sobrepõem.

Poucos destinos do planeta exibem um contraste tão grande de paisagens e comportamentos dentro do seu perímetro urbano. E quem ganha com isso é o turista, que volta para casa com a sensação, totalmente fundamentada, de que acabou de realizar uma viagem no tempo.

Istambul está fisicamente dividida entre a Europa e a Ásia, e, lá, para ir de um continente a outro, o visitante precisa de menos de 30 minutos. Nos dois lados da cidade, influências ocidentais e orientais se misturam, dialogam e, por vezes, confundem, montando cenários fascinantes para quem vem de fora. 

Abaixo, veja como explorar esses dois universos em um passeio pela metrópole turca.  
Começando no templo

A Hagia Sophia foi usada como basílica pelos bizantinos e mesquita pelos otomanos - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O histórico bairro de Sultanahmet, no setor europeu, é o ponto de partida ideal para qualquer viagem por Istambul. Lá está a Hagia Sophia (na foto), que resume muito bem o espírito da cidade. Construída como basílica no século 6 d.C., quando Istambul se chamava Constantinopla e era capital do Império Bizantino, o monumento foi transformado em mesquita pelos otomanos no século 15 e hoje é um museu, onde o turista pode admirar testemunhos dessas duas eras (a cristã e a muçulmana) que marcaram a história local. Lindos mosaicos mostrando Jesus e a Virgem Maria dividem espaço com a "shahada", o testemunho de fé islâmico que fiz "Não há deus além de Deus e Maomé é seu profeta".

Ao sair da Hagia Sophia repare nas modernas garotas turcas caminhando entre o lindo jardim que marca o coração de Sultanahmet, enquanto, no outro extremo do espaço, mulheres de véu entram na Mesquita Azul, erguida no século 17 a mando do sultão Ahmet 1º e hoje o principal monumento islâmico de Istambul. Ao final do dia, os alto-falantes da Hagia Sophia e da Mesquita Azul chamam, de maneira intercalada, os fiéis muçulmanos para as orações, em um espetáculo sincronizado que costuma encantar os turistas.

Sultanahmet é o local turístico mais popular de Istambul e, se você não se importa com muvucas, visite o Palácio Topkapi, local que, entre os séculos 15 e 19, abrigou o principal centro de decisões do Império Otomano. Lá é possível conhecer a antiga residência dos sultões, um harém e um museu que exibe uma coleção de pedras preciosas e armas utilizadas pelos guerreiros otomanos.

Terminando no bar

Bonde cruza a rua Istiklal, a mais famosa via pública de Istambul - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Istambul tem um excelente sistema de transporte público, mas vale a pena explorar muitas de suas paisagens a pé. De Sultanahmet, desça até o nível do estreito de Bósforo, em uma agradável caminhada de 20 minutos. No horizonte, cruzando o braço de mar conhecido como Chifre de Ouro, irá aparecer a ponte de Gálata, recheada de pescadores e que leva até o bairro de Beyoglu, onde as mesquitas dão lugar a descolados bares, cafés, restaurantes e lojas de instrumentos musicais. A opção para repor as energias pode ser o tradicional café turco ou uma cerveja Efes, a marca mais tradicional da Turquia.  

Beyoglu também abriga um dos mais famosos cartões-postais de Istambul: a torre de Gálata, construída no século 14 e usada pelo Império Otomano como prisão. Reza a lenda que um prisioneiro fugiu da torre usando asas de madeira, voando através do estreito de Bósforo e pousando em terra firme. O monumento tem 67 metros de altura, é aberto a visitas e constitui um local ideal de onde ver o pôr do sol na cidade.

Ao voltar para a ponte de Gálata, vale a pena pegar o "tram" (veículo elétrico de superfície), fazer uma conexão com o metrô e ir até a praça Taksim. Lá, admire as árvores do parque Gezi, que seria demolido em 2013 para dar lugar a um shopping center, mas que foi salvo por violentos protestos da população que adquiriram dimensões nacionais. Na praça Taksim também começa a rua Istiklal (na foto acima), a mais famosa via pública de Istambul. Trata-se de um local para, durante o dia, fazer compras e, à noite, cair na gandaia. Diversos bares e discotecas se acumulam na área. 

Indo para a Ásia

O Grande Bazar de Istambul abriga cerca de quatro mil lojas que comercializam tapetes, joias, ouro, especiarias e roupas - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Nem todos os turistas vão até o bairro de Besiktas durante sua passagem por Istambul. Ledo engano. Situado no lado europeu, mas um pouco longe de Sultanahmet, o local é uma das áreas mais divertidas e descoladas da metrópole turca. Seus bares e público lembram a paisagem da Vila Madalena, em São Paulo, com jovens (principalmente as mulheres) desfilando na rua com roupas estilosas e cerveja e raki (uma bebida feita com uva e sabor de anis) passando sem parar na mão de garçons. 

Das margens de Besiktas saem embarcações que vão até o lado asiático de Istambul, que oferece novos contrastes para o visitante. Na região de Uskudar predomina um ambiente mais conservador, com famílias muçulmanas (a mulher quase sempre coberta) passeando pelas ruas e parques. Se quiser conhecer um templo lindo e sem turistas, visite a mesquita Mihrimah Sultan, erguida em meados do século 16 a mando da filha do sultão Suleiman, o Magnífico.

Ao sul de Uskudar fica o distrito de Kadikoy, que, apesar de estar no lado asiático, é uma área com um dos perfis mais europeus de Istambul. O local abriga diversos restaurantes e bares que, à noite, oferecem excelente música ao vivo, além de uma área para caminhadas com vista para o mar de Mármara. Para finalizar, pegue novamente a embarcação e vá até o Grande Bazar de Istambul (na foto acima), que abriga cerca de 4.000 lojas que comercializam tapetes, joias, ouro, especiarias e roupas. O bazar está no lado europeu da metrópole, mas é uma das atrações com mais cara de Oriente Médio de Istambul. Mas a cidade é isso aí: cheia de sobreposições fascinantes. 

*O jornalista viajou a Istambul com o apoio da companhia aérea Turkish Airlines.