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Bariloche é sucesso entre brasileiros desde os anos 60; veja curiosidades

Débora Costa e Silva

Do UOL, em Bariloche (Argentina)*

31/07/2015 18h04

Quando uma viagem dá certo e supera as expectativas, a sensação é bem parecida à de quando a gente se apaixona: queremos voltar para o lugar sempre que possível, apresentar para parentes e amigos e ficamos sonhando acordados lembrando dos melhores momentos, não é?

Jeanette Ferreira (à esquerda), suas filhas Cristina (sentada) e Elisabeth e sua neta Roberta (à direita) posam com um cão São Bernardo em Bariloche, em 2011 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jeanette Ferreira (à esquerda), suas filhas Cristina (sentada) e Elisabeth e sua neta Roberta (à direita) posam com um cão São Bernardo em Bariloche, em 2011
Imagem: Arquivo pessoal

Foi o que aconteceu com a pianista Jeanette Ferreira, de 83 anos, que já visitou Bariloche quatro vezes: em 1969, em 1983, em meados dos anos 90 e em 2011. Encantada pelo destino, ela pôde testemunhar as transformações da cidade ao longo das décadas e garante: "melhorou muito".

"Antes eram apenas dois cerros (montanhas) com atividades. No resto do tempo, era só curtir a beleza do lugar. Dessa última vez, mal dava tempo de fazer todos os programas. Eles foram desbravando lugares novos e agora já tem passeio de jipe, catamarã, um pouco de tudo", avalia Jeanette.

Essa variedade de atrações é apenas uma das diferenças entre a Bariloche de antigamente da de hoje em dia. Dos anos 60 para cá, algumas coisas mudaram, mas uma permanece igual: o destino continua sendo o queridinho dos brasileiros. Conheça alguns fatos marcantes sobre a cidade.

Brasiloche

Personagem Carina, interpretada por Elisabeth Savala, na novela "Pai Herói" (1979), foge para Bariloche na trama - Divulgação/Nelson di Rago/Memória Globo - Divulgação/Nelson di Rago/Memória Globo
Personagem Carina, interpretada por Elisabeth Savala, na novela "Pai Herói" (1979), foge para Bariloche na trama
Imagem: Divulgação/Nelson di Rago/Memória Globo

Há décadas o Brasil é o país que mais envia turistas para a cidade – que até foi apelidada de "Brasiloche" por conta disso. Além da proximidade geográfica e dos preços convidativos em comparação a outros destinos de inverno, Bariloche ganhou fama nas terras tupiniquins também graças a um empurrãozinho dado pela novela "Pai Herói", de 1979. O casal protagonista do folhetim viajou para lá e isso colaborou muito com a popularização da cidade por aqui.

Quem lembra bem é a designer Fernanda Caiuby Novaes Falata, 59 anos, que esteve por lá na época do auge da novela, para passar a lua de mel. "O plano era ir para Ushuaia, mas acabamos indo para Bariloche, que estava cheia de brasileiros. Um dos passeios inclusive passava pelas locações da novela, que fazia muito sucesso", lembra. Curiosidade: foi difícil para a equipe de produção encontrar uma espingarda para a cena em que Carina é ferida, por conta do regime militar na Argentina.

Suíça argentina

Centro Cívico de Bariloche, com o lago Nahuel Huapi ao fundo, em 1942, revela uma cidade ainda em crescimento - Archivo Visual Patagonico/Divulgação - Archivo Visual Patagonico/Divulgação
Centro Cívico de Bariloche, com o lago Nahuel Huapi ao fundo, em 1942, revela uma cidade em crescimento
Imagem: Archivo Visual Patagonico/Divulgação

Apesar de hoje ser dominada por brasileiros durante a alta temporada de inverno, não era bem o Brasil o país que os argentinos se inspiraram ao construir Bariloche. Por conta da Primeira Guerra Mundial, a Europa estava devastada e isso arruinou as férias da aristocracia argentina. Era preciso criar um novo destino turístico.

Graças à geografia montanhosa de Bariloche, foi possível investir na criação de uma estação de esqui, hotéis e chalés de arquitetura suíça e trazer o clima dos Alpes para a Argentina. "Não dava mais para ir a Paris. Então investiram aqui, plantaram pinheiros, começaram a fabricar chocolates e criar uma identidade", explica o guia Martin Montaña, que trabalha há dez anos com turismo na cidade.

Bosque do Bambi

A cor de canela da madeira das árvores da família das mirtáceas são marca registrada do bosque Arrayanes - Débora Costa e Silva/UOL - Débora Costa e Silva/UOL
A cor de canela das árvores é marca registrada do bosque Arrayanes
Imagem: Débora Costa e Silva/UOL

Não foi só novela brasileira que pegou carona nas belezas de Bariloche. Reza a lenda que ninguém menos do que Walt Disney visitou o destino e se inspirou no Bosque Arrayanes para criar um de seus personagens mais lendários: o Bambi. No entanto, essa história é cheia de controvérsias: há quem desminta, dizendo que foi um boato criado para atrair mais turistas para a região. Verdade ou não, o lugar é lindo e, de fato, parece bastante com o retratado no desenho. O que mais impressiona é a cor de canela na madeira das árvores da família das mirtáceas que povoam o bosque.

Adiós, esqui

Passeio de trator na neve é uma das opções alternativas ao esqui em Bariloche - Débora Costa e Silva/UOL - Débora Costa e Silva/UOL
Passeio de trator na neve é uma das opções alternativas ao esqui em Bariloche
Imagem: Débora Costa e Silva/UOL

Não é porque alguém quer ver a neve que necessariamente gosta ou quer esquiar. E Bariloche sempre ofereceu opções de lazer além do esqui, principalmente para as crianças, mas há também adultos que procuram outros tipos de passeios. Foi o caso da professora Maria do Carmo Fagundes, 63 anos, que visitou o destino com o marido em 1989. "A gente gosta muito de frio, mas não esquiamos porque não somos fãs de esportes radicais. Subimos a montanha de teleférico, com roupa de esqui e tudo, apreciamos a vista e curtimos muito mesmo assim", explica.

Assim como Maria, muita gente que vai hoje para Bariloche busca outras formas de lazer. A mudança se reflete até na hora de planejar a viagem. Segundo Rodrigo Vaz, Gerente de América do Sul da CVC, antigamente a empresa incluía o aluguel de roupa de esqui no pacote, mas de uns anos para cá deixou de fazer isso para que o turista alugue as roupas só no local e se for necessário. 

Hoje em dia, o número de atividades além do esqui e do snowboard é ainda maior. Há a possibilidade de fazer tubbing (descer a montanha em uma bóia inflável), patinar no gelo, passear de trenó puxado por cães, snowmobile (uma espécie de trator para a neve) e trilhas - sem esquecer o clássico esquibunda, sucesso nas pistas de Bariloche.

No verão também

Bariloche é o destino campeão de visitas na região da Patagônia e oferece opções de lazer que vão de caminhadas até navegações pelos lagos da região, como as que acontecem, nos meses de verão, no Lago Moreno - Eduardo Vessoni/UOL - Eduardo Vessoni/UOL
Bariloche oferece opções de lazer que vão de caminhadas até navegações pelos lagos da região, como as que acontecem, nos meses de verão, no Lago Moreno
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Se o público que vai ao destino já não pensa tanto em esqui, então não é de se espantar que Bariloche atraia turistas também durante o verão. Passeios de barco, caiaque, trilhas pelas montanhas (verdes e cheias de flores em outras estações), cavalgadas e outras atividades podem ser feitas por lá quando não há neve. Além de descobrir uma outra paisagem, a vantagem é que os preços são mais baixos e a cidade está mais tranquila.

Também em lua de mel, o advogado Pedro Luís Carvalho de Campos Vergueiro, de 73 anos, esteve em Bariloche no início de janeiro de 1974, em pleno verão. "Ainda assim ventava muito e a água do lago, apesar de linda e esverdeada, era bastante gelada" comenta. Ele fez todos os passeios clássicos, iguais aos que visitam o lugar durante o inverno: foi ao famoso hotel Llao Llao, conheceu o Bosque Arrayanes e até jogou no cassino do hotel em que ficou hospedado - segundo ele, se deu bem e foi dormir com o bolso cheio. Teve sorte no jogo e no amor.

* A jornalista viajou a convite do Emprotur Bariloche e Grupo Latam Airlines