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Ex-capital da cocaína, Medellín se reinventa com baladas e museus modernos

Nell Mcshane Wulfhart

New York Times Syndicate

10/06/2015 12h17

A segunda maior cidade da Colômbia vem rapidamente perdendo sua reputação controversa. Com projetos de infraestrutura que levam bibliotecas e parques arquitetonicamente arrojados às regiões mais carentes e métodos criativos de transporte, Medellín é uma das metrópoles que mais progridem atualmente na América Latina. Sua localização (no Vale Aburrá, cercada de montanhas verdejantes) é ideal, pois proporciona um clima de primavera o ano todo, sem contar o povo, simpático e orgulhoso. Uma onda de construções toma conta de quase todos os bairros, cobertos de cartazes anunciando a dedicação do governo à inovação e à educação. Depois de anos como o centro das operações ilícitas de Pablo Escobar e décadas de violência resultante do narcotráfico, a "cidade da primavera eterna" agora só pensa no futuro.

SEXTA-FEIRA

15h - Lembranças
Para ter uma ideia do progresso de Medellín, visite o Museo Casa de la Memoria, inaugurado há dois anos (entrada gratuita). Oblongo e elegante, é apenas mais um dos vários prédios novos e visualmente estimulantes que surgem na cidade – e, de certa forma, se mostram incongruentes nos bairros que permanecem iguais há décadas. Embora parte das peças dedicadas aos anos de guerra civil entre o governo (e seus grupos paramilitares) e as guerrilhas esquerdistas seja mais artística que explicativa, há uma linha cronológica muito útil para pôr os acontecimentos em perspectiva. Os vídeos das vítimas e parentes dos desaparecidos (vítimas do conflito armado que simplesmente sumiram ao longo dos anos) são um relato forte, em primeira mão, da vida em meio à guerra interna da Colômbia.

16h30 - Camelôs e Boteros
Saindo do museu, desça a Calle 52, uma rua caótica lotada de vendedores de quinquilharias, comida e portinhas oferecendo empanadas, rumo ao Hatoviejo, restaurante tradicional que serve pratos da culinária "paisa" (denominação para a pessoa de Antioquia, região da qual Medellín faz parte). Peça o substancioso mondongo, tradicional sopa de miúdos que vem com arroz, abacate e banana-da-terra (25.900 pesos ou US$11,30 com o dólar a 2.290 pesos). De lá, siga para a Plaza Botero, uma bela praça lotada de estátuas de bronze gorduchas de cães, pessoas e cavalos, marca registrada do artista colombiano mais famoso, Fernando Botero (mais exemplos de sua obra se encontram no Museo de Antioquia, situado na praça). A atraente construção gótica, em preto e branco, no centro, abriga o Palacio de la Cultura Rafael Uribe Uribe (Gratuito. Vale uma espiada pela galeria de arte e pelos artefatos históricos).

Medellín está no Vale Aburrá, que lhe dá um clima de primavera o ano todo - Chris Carmichael/The New York Times - Chris Carmichael/The New York Times
Medellín está no Vale Aburrá, que lhe dá um clima de primavera o ano todo
Imagem: Chris Carmichael/The New York Times

19h - Cerveza artesanal
As cervejas artesanais estão ganhando popularidade na Colômbia – e você pode prová-las na Cervecería Libre, um bar animado e despojado localizado no badalado bairro de Ciudad del Rio. Os donos fabricam sua própria stout, IPA e outras, mas também servem os produtos de mais três microcervejarias: Apóstol, Bogotá Beer Company e 3 Cordilleras (os preços variam entre 5.000 e 6.500 pesos cada). Puxe um banquinho para papear com os bartenders, que podem lhe chamar um táxi quando estiver calibrado e quiser ir embora.

SÁBADO

10h - Bondinhos e bibliotecas
Um dos sinais mais definitivos da renascença de Medellín é o Metrocable, sistema de transporte público que consiste em gôndolas aéreas que sobem a encosta como teleféricos de estações de esqui. Suba na estação Acevedo (2.000 pesos; dá para fazer conexão com o metrô de superfície, o único na Colômbia) e aprecie a vista por sobre as casas de tijolo e telhado de metal corrugado. Faça baldeação na Santo Domingo e parta para o segundo trecho (4.600 pesos ida ou volta), que dura quinze minutos, durante os quais se vê o fim da cidade. A linha termina no Parque Arví, 1.760 hectares com um ar surpreendentemente rural, inclusive com homens a cavalo guiando o gado. Há inúmeras trilhas para caminhada entre os pinheiros e eucaliptos; depois de explorá-las, pegue novamente o Metrocable até Santo Domingo Savio, uma favela colorida que agora abriga a Biblioteca España – composta por três monólitos negros e projetada pelo arquiteto de Bogotá Giancarlo Mazzanti. Além de ter acesso gratuito, ela se tornou o centro de uma comunidade que antes vivia no meio de uma zona de guerra.

13h - A Glória de Gloria
Dê um pulo em Envigado, ao lado de El Poblado, para almoçar no La Gloria de Gloria, restaurante simples que serve o melhor chicharrón da cidade e, quiçá, do mundo. As tiras de pele de porco, crocantes, são servidas com porções generosas de arroz, feijão, chorizo e banana-da-terra e compõem a bandeja paisa, prato colombiano que mantém os operários satisfeitos o dia todo (32 mil pesos/prato, dá para duas pessoas). Doña Gloria, a dona, volta e meia circula pela casa distribuindo doses de aguardiente – a bebida nacional com sabor de anis – para todos, inclusive para si mesma. É bem forte, então, se preferir, peça uma limonada para ajudar a descer.

A bandeja paisa é um dos pratos mais famosos da Colômbia - Chris Carmichael/The New York Times - Chris Carmichael/The New York Times
Fácil de achar em Medellín, a bandeja paisa é um dos pratos mais famosos da Colômbia
Imagem: Chris Carmichael/The New York Times

14h30 - Arte moderna
Faça uma parada no belo Museo de Arte Moderno, espaço industrial-chic compacto cujas mostras de artistas contemporâneos como Álvaro Barrios mudam a cada trimestre. Situado em uma antiga usina de aço, o museu (ingresso: 8.000 pesos) ganhará uma nova ala, projetada pelos arquitetos peruanos da 51+1, para abrigar uma coleção permanente de artistas colombianos, incluindo Beatriz González. A lojinha é um bom lugar para comprar souvenirs como os pequenos cadernos com ilustrações do Metrocable feitas pela colombiana Marcela Restrepo.

16h30 - Café colombiano
Por incrível que pareça, é difícil encontrar café bom na Colômbia (já que praticamente o melhor é todo exportado) e o pessoal local costuma beber o tinto, feito com um pó mais fraco, de grãos inferiores. Algumas cafeterias novas estão tentando mudar esse conceito, lideradas pela Pergamino. Chique, ela fica no Parque Lleras – e combinaria perfeitamente com o cenário de San Francisco, por exemplo, a julgar pelos clientes com seus MacBooks que lotam as mesas do pátio. Depois de reabastecer, desça a Via Primavera e a Via Provenza, ali ao lado, ambas cheias de boutiques e restaurantes. Pare na Vida Augusta, que vende presentes e peças para a casa feitos na Colômbia e outras partes do mundo, como a armação de óculos de madeira da Lignum. A área que cerca o parque fica entre o animado e o brega, mas vale a pena fazer uma pausa para um drinque antes do jantar no bar do terraço do Charlee Hotel, nem que seja para apreciar a vista da piscina e das ruas movimentadas lá embaixo.

20h - Jantar no Carmen
Atravesse a Calle 10 para chegar ao Carmen, verdadeira instituição local. O elegante restaurante, dividido em salão térreo, salão superior e um belo jardim, atrai os descolados com as iguarias elaboradas da dupla Carmen Angel e Rob Pevitts, que também são marido e mulher, treinados no Le Cordon Bleu de San Francisco. Cada prato, como o camarão na manteiga com lulo, uma fruta cítrica local, é uma combinação de detalhes cuidadosos (até a tônica é caseira). Faça reserva com bastante antecedência. Jantar para dois sai por volta de 350 mil pesos.

A Cervecería Libre é um dos melhores lugares para curtir cervejas artesanais - Chris Carmichael/The New York Times - Chris Carmichael/The New York Times
A Cervecería Libre é um dos melhores lugares para curtir cervejas artesanais
Imagem: Chris Carmichael/The New York Times

23h30 - Uma pitada de salsa
Os inúmeros bares de salsa da cidade pedem uma visita, nem que seja para conferir a energia do lugar. O Son Havana, de temática cubana, fica no badalado Laureles e conta com uma banda de nove (ou mais) integrantes tocando nas noites de quinta e sábado (entrada: 10 mil pesos). Casais de várias idades preenchem todos os espaços na pista de dança, ao lado dos banheiros e nos corredores. É pequeno e simples, mas tem um clima elétrico, música excelente e dançarinos de cair o queixo. Acomode-se com uma cerveja Aguila na mão (4.000) e prepare-se para observar.

DOMINGO

10h - O efeito Escobar
Embora as evidências do futuro brilhante de Medellín estejam por toda parte, ainda é fascinante ver de perto o legado de Pablo Escobar. Camilo Uribe, dono da Medellín City Tours (medellincitytours.com), leva os visitantes para ver três locais ligados ao traficante (US$95/pessoa; o preço cai conforme o grupo aumenta). Primeiro, o cemitério exclusivo onde está enterrado e onde as pessoas ainda deixam flores (ele é visto como um tipo de herói entre os mais pobres). Dali é possível ver a cidade e as montanhas que a cercam. Há também o telhado no qual foi morto por atiradores da polícia enquanto tentava fugir, em dois de dezembro de 1993. Sua cobertura é fascinante: um prédio em ruínas com um prato de satélite imenso e antiquado na parte de trás. Algumas cenas de "Escobar: El Patrón del Mal", novela colombiana muito popular de 2012, foram feitas ali. O elevador privativo não funciona mais, mas se subir ao espaçoso apartamento pode conferir seu cofre, do tamanho de um closet.

13h - Para frente e para o alto
Encerre a viagem com uma experiência ao mesmo tempo estimulante e inspiradora. Um dos investimentos de infraestrutura de maior visão da cidade foi a instalação de escadas rolantes de 384 metros nas encostas dos morros que levam à Comuna 13, bairro pobre e violento que vivia isolado por causa de sua localização, a uma altura equivalente a um prédio de 28 andares. A obra revitalizou a área não só por agilizar a movimentação dos moradores, mas por permitir que os mais velhos e alguns deficientes – que nunca tinham saído de casa – a se aventurar pela cidade. Embarque na estrutura (monitorada por seguranças, a maioria que mora na própria região) e vá até o alto, onde terá uma vista privilegiada da cidade e poderá admirar os murais em cores fortes que os prédios e casas ganharam na inauguração da nova estrutura.

Onde ficar

De frente para o animado Parque Lleras, o Charlee Hotel (Calle 9A, 37-16; thecharlee.com; diárias a partir de US$200) é o melhor boutique hotel da cidade, com quartos requintados e uma academia onde se veem top models famosas tirando selfies entre as sequências de exercícios.

Perto do Charlee, mas em uma parte bem mais tranquila do bairro, está o Diez Hotel (Calle 10A, 34-11; diezhotel.com; diárias a partir de 259 mil pesos, ou US$114, com café da manhã incluído). A decoração de cada piso é baseada em uma região diferente da Colômbia; do spa se tem uma vista panorâmica da cidade.