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Esqueletos petrificados dão ar sinistro a passeio por Pompeia, na Itália

Ana Sachs

Do UOL, em Pompeia

21/02/2014 08h00

O sítio arqueológico de Pompeia é um dos únicos locais no mundo capazes de levar os visitantes de volta a uma verdadeira cidade romana. O lugar permanece em excepcional estado de conservação por ter sido soterrado por uma chuva de cinzas – e não pela lava - que cobriu em seis metros de altura a cidade durante a erupção do vulcão Vesúvio, em 79 d.C. Outras cidades vizinhas atingidas foram Herculano (outro excelente e bem preservado sítio arqueológico – vale a visita, se houver tempo), Oplontis, Stabia e Boscoreale.

Quando desapareceu debaixo das cinzas, Pompeia tinha cerca de 20 mil habitantes e era produtora de vinho e azeite. A erupção começou por volta das 10 horas da manhã do dia 24 de agosto e durou o suficiente para cobrir a cidade e matar boa parte de seus moradores soterrados ou asfixiados pela fumaça tóxica.

Oculta durante 1.600 anos, a cidade foi redescoberta por um agricultor que, ao trabalhar na região, localizou um muro da cidade, no final do século 18. Nos dois séculos seguintes, a cidade foi escavada por arqueólogos. Casas, prédios públicos, aquedutos (sistema de condução de água), teatros, termas, lojas e outras construções foram encontrados. Os arqueólogos acharam também objetos e afrescos que revelaram importantes aspectos do cotidiano de uma cidade típica do Império Romano.

Além disso, muitos esqueletos petrificados, em posição de proteção, foram encontrados nas escavações.  Isso porque a chuva de cinza fina que cobriu o local aderiu às formas dos corpos e roupas das vítimas, preservando o momento em que morreram. Com uma técnica que utiliza gesso, desenvolvida por Giuseppe Fiorelli, diretor de escavações entre 1860 e 1875, foi possível mantê-los intactos, como foram encontrados pelos pesquisadores, até os dias de hoje.

Atualmente, Pompeia, que desde 1997 é Patrimônio da Humanidade, corre o risco de ser rebaixada à lista de Patrimônio Mundial em Perigo. Segundo o último relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a situação no local é preocupante e inclui infiltrações, afrescos e mosaicos expostos à luz e pouca vigilância.

Isso levou a entidade a exigir a apresentação de um projeto de restauração e conservação, que deve ser analisado ainda em 2014. A nós, resta torcer para que a cidade não desapareça mais uma vez.

Conheça dez dos pontos turísticos mais interessantes do local:

 

  • Ana Sachs/UOL

    Estátua que adorna a Casa do Fauno, a maior e uma das mais impressionantes residências nas ruínas de Pompeia

A Casa do Fauno: Com 2.970 m2, é a maior e uma das mais impressionantes residências de Pompeia. Foi construída no início do século 2 a.C. e, posteriormente, passou por diversas reformas até chegar ao aspecto atual. No centro do impluvium, espécie de tanque para juntar as águas pluviais, se ergue uma réplica da estátua de bronze do Fauno, cuja original se encontra no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. O Mosaico de Alexandre (outra réplica cuja original está no museu), que representa a vitória de Alexandre Magno contra Dario, rei da Pérsia, também pode ser visto ali.

Casa dos Vettii: É uma das mais célebres e luxuosas residências de Pompeia. A escavação cuidadosa preservou quase todos os afrescos de suas paredes, que são o ponto alto da visita. A identidade dos moradores, dois ricos libertos, ficou preservada em pichações feitas em períodos de campanha eleitoral na frente da casa. Dois anéis contendo inscrições com seus nomes também foram encontrados. Na grande domus, como eram chamadas as casas das ricas famílias romanas, um dos aposentos se destaca por seus painéis de vermelho escuro com frisos com pinturas de cupidos.

Villa dei Misteri: Foi construída no século 2 a.C., em uma colina, de frente para o mar e fora dos muros de Pompeia. É uma das mais de cem moradias descobertas na área do Vesúvio, geralmente ligadas à exploração da agricultura, mas que também serviam de refúgio para os endinheirados. Inclui um bairro residencial e uma área para os empregados, ao lado dos locais onde se fazia vinho. Um dos pontos altos da visita é o triclínio (espécie de sala de jantar), decorado com afrescos que retratam ritos de iniciação nos mistérios do deus grego Dionísio e das mulheres em sua vida de casada. É destas pinturas que vem o nome do lugar.

Teatro Grande: Construído no século 2. a.C. é inclinado e tem o formato de uma ferradura - modelo de construção que permitia que o som se propagasse e fizesse com que todos os presentes ouvissem o que era dito no palco, que ficava ao centro, embaixo. Era dividido em três zonas, das quais a mais baixa (ima cavea), coberta com mármore, era reservada para os cidadãos importantes da cidade. Acomodava 5.000 pessoas. Não deixe de ver também o Teatro Pequeno e o Quadripórtico dos Teatros (espécie de grande jardim onde os espectadores podiam se reunir e se encontrar nos intervalos das apresentações), todos próximos um do outro e parte do mesmo complexo.

Fórum: Construído no século 2 a.C., era o coração da cidade. Nessa grande praça, localizada na esquina das principais ruas de Pompeia, se debatiam as questões políticas, administrativas e comerciais da cidade. O local era fechado para carros e ladeado por importantes edifícios religiosos, políticos e econômicos. Ao norte, o Fórum é fechado pelos Arcos Honorários, originalmente revestidos de mármore e que eram dedicados à família real.  Eles estavam dispostos em cada um dos lados do Templo de Júpiter, outro destaque do local, construído também no século 2 a.C. Com uma grande escadaria e colunas, tinha em seu interior uma estátua de Júpiter, cuja cabeça foi encontrada durante as escavações.  

  • Ana Sachs/UOL

    No sítio arqueológico de Pompeia é possível se ter uma boa ideia de como viviam os antigos romanos. Na foto, toda a estrutura de uma rua como as de hoje, com calçadas e casas de ambos os lados


Anfiteatro: Construído em cerca de 70 a.C., é uma das construções mais antigas e bem preservadas de Pompeia. O edifício foi concebido para combate de gladiadores e tinha capacidade para 20 mil espectadores, o equivalente a toda a população da cidade. O auditório é dividido em três áreas: o cavea ima (primeira fila), para os cidadãos importantes, a mídia e a soma, mais elevados, para os outros. No eixo principal da arena ficava a passagem pela qual adentravam os participantes das lutas. Do outro lado estava o local por onde se retiravam os corpos dos mortos ou os feridos. Aproveite e viste também o Ginásio Grande, que fica logo ao lado, e era reservado aos exercícios de ginástica promovidos por associações juvenis de Pompeia.  

Templo de Apolo: É um dos mais antigos santuários de Pompeia, como atestado pela decoração arquitetônica sobrevivente datada de 575-550 a.C., embora o arranjo atual seja século 2 a.C. Possui um pórtico com colunas jônicas e o chão é coberto de um tipo de pedra policromada que imita desenhos de cubos em perspectiva. Nas laterais, estão as réplicas das estátuas de Apolo e Diana, retratados como arqueiros (os originais estão no Museu Arqueológico Nacional). O altar ao pé da escada é 80 a.C. A Basílica, que fica próxima, também vale uma visita.

Termas: Nem todos os habitantes da cidade possuíam água em casa, por isso as termas tinham grande importância para a população de Pompeia. Além de uma necessidade, elas também eram um evento social. Ali, eles se encontravam com amigos, conversavam e estabeleciam contatos políticos. Homens e mulheres tinham áreas separadas. As termas de Stabia são as maiores e mais antigas da cidade, do século 2 a.C. Parada obrigatória, elas ainda exibem a refinada decoração com motivos figurativos e mitológicos, feita pouco antes da erupção de 79 d.C. Ali também é possível ver alguns corpos dos mortos na erupção. Bem preservadas, as termas do Fórum são as segundas maiores da cidade e datam de 80 a.C., também merecendo uma espiada.

Lupanário: Lupa, que em latim significa prostituta, dá nome a esse local que é um dos mais bem organizados dos muitos bordéis de Pompeia. Ele é o único construído com esta função específica – os outros constituíam-se apenas de uma cama no andar superior de alguma loja. São cinco quartos e uma latrina no piso térreo e mais cinco quartos no andar superior. O destaque fica por conta das camas do bordel: cada quarto têm a sua, feita em alvenaria originalmente coberta por um colchão. Outro ponto interessante são as pinturas que retratam diferentes posições sexuais e que adornam todo o bordel. As prostitutas eram escravas e seus rendimentos iam todos para o cafetão. A marca de uma moeda de 72 d.C., gravada em uma argamassa do edifício, demonstra que ele é de um dos últimos períodos da cidade.

O jardim dos mortos: Neste extenso espaço, onde atualmente há um vinhedo, se encontram os corpos de algumas das vítimas da erupção de 79 d.C. Os formatos de seus corpos e rostos no momento da morte foram preservados por uma técnica com gesso desenvolvida por Giuseppe Fiorelli, diretor de escavações de Pompeia entre 1860 e 1875.