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Em Nova York, Central Park esconde planetário, pandas e até cachoeira

Stephanie Rosenbloom

New York Times Syndicate

25/11/2014 07h00

Em 1859, o santuário de colinas ondulantes, pontes e lagos que ganhava forma no centro de Manhattan foi descrito pelo "New York Times" como "um trabalho nobre claramente destinado a ser o orgulho e o prazer de Nova York".

A negligência e a decadência dos anos 70 ameaçaram acabar com essa visão utópica do Central Park, mas hoje, após anos de reformas, ele se mostra verdejante e próspero, além de ser uma das raras atrações turísticas que também fazem a alegria dos moradores. Dependendo da estação e do ciclo de vida, é possível tomar banho de sol ou patinar no gelo, navegar com um barquinho de brinquedo ou remar em um de verdade, ouvir Shakespeare, rock ou o canto de 230 espécies de pássaros.

Projetado por Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, os mais de 340 hectares do Central Park são cobertos de esculturas, monumentos e fontes que homenageiam exploradores, artistas e heróis reais ou imaginários: Colombo, Beethoven, Duke Ellington, John Lennon, Alice no País das Maravilhas.

O parque também abriga quadras de tênis e handebol, campos de croqué, um carrossel, um castelo, um teatro de marionetes, um zoológico e mais de uma dúzia de playgrounds. É percorrido por carruagens a cavalo e cercado por prédios de apartamentos de preços astronômicos, hotéis de luxo e museus de classe internacional, mas apesar de ser um tipo de circo, também conta com trilhas desertas e cantinhos sossegados, museus e bares dentro e ao redor do parque onde é possível desfrutar de uma Manhattan tranquila, quase atemporal. Abaixo, saiba como conhecer este cartão-postal em 36 horas. 

SEXTA-FEIRA

14h - Nomes de destaque
Baixe o aplicativo gratuito do Central Park em seu smartphone. Seus mapas permitem que você identifique sua localização, mas o mais interessante é que ele contém clipes de áudio de celebridades como Jerry Seinfeld lhe dando as boas-vindas ao Mall e à Literary Walk, ou Whoopi Goldberg discutindo o Ringue Wollman (onde aprendeu a patinar). Você também pode fingir ser um aristocrata em um filme da Merchant Ivory e atravessar um dos portões de ferro perto da 105th Street com a Quinta Avenida e entrar na formalidade dos 2,4 hectares dos Jardins do Conservatório (uma zona oficial de silêncio), divididos em três estilos: francês, italiano e inglês (não deixe de visitar a fonte Frances Hodgson Burnett, com as esculturas de um menino e uma menina, criadas em honra da autora de "O Jardim Secreto").

Bailarina dança perto de uma das fontes do Central Park, em Nova York - Piotr Redlinski/The New York Times - Piotr Redlinski/The New York Times
Bailarina dança perto de uma das fontes do Central Park, em Nova York
Imagem: Piotr Redlinski/The New York Times

No jardim italiano, suba a escadaria para a pérgula coberta de glicínias, sente-se em um dos bancos à sua sombra e observe o jato de 3,5 metros do chafariz lá embaixo. Boa hora também para ativar o aplicativo e ouvir Candice Bergen falando sobre os jardins. Antes de ir embora, olhe para baixo. A seus pés, medalhões enterrados no chão levam os nomes dos treze estados originais, incluindo Nova York.

15h30 - Paraíso dos museus
Saia dos jardins para a Quinta Avenida através do imenso portão de ferro batido Vanderbilt, feito em Paris em 1894 e que já foi parte da mansão de Cornelius Vanderbilt II, na 58th Street. Siga para o sul. Você está no trecho conhecido como a Milha dos Museus. Já visitou os mais badalados como o Guggenheim? Pare então nos mais sossegados, como o Museu da Cidade de Nova York, onde encontrará vestígios dos primeiros tempos da cidade, incluindo manuscritos à mão de Eugene O’Neill.

A Neue Galerie celebra a arte e o design alemão e austríaco do século 20 com obras de Gustav Klimt, Josef Hoffmann, Vasily Kandinsky e Paul Klee. Depois, delicie-se com um sanduíche de lagosta (US$18) no self-service do café e martini bar da cobertura do Museu Metropolitano de Arte (aberto de maio a novembro) ao pôr-do-sol.

19h30 - Peregrinação rumo ao sul
Comece pelo Plaza. Esqueça o barulhento Champagne Bar no saguão e suba as escadas rumo ao Rose Club, mais aconchegante, onde as cadeiras de plush são ideais para conversas mais íntimas. Um Bloody Mary custa US$23, mas, peraí, o amendoim e a pipoca de graça valem quase por uma refeição (o Plaza Food Hall é opção excelente de salgados e comidinhas que podem ser degustadas no parque).

A seguir siga para o oeste, ao longo da Central Park South, de olho nos bares que lhe chamarem a atenção, do Whiskey Park ao que fica no restaurante South Gate, em J W Marriott Essex House. Quando chegar ao Museu das Artes e do Design, vá ao nono andar, onde encontrará o Robert, restaurante e lounge com piano ao vivo e uma bela vista da Columbus Circle. Do outro lado da rua, no Time Warner Center, há vários bares (além de lojas exclusivas), incluindo o adorável Center Bar, que também oferece piano ao vivo, e o Landmarc, que serve pratos da chamada cozinha de bistrô. Se quiser algo mais sofisticado, vá ao Stone Rose Lounge.

SÁBADO

7h30 - Pássaros madrugadores
Quem ama os pássaros sabe que o raiar do dia é mágico. No Ramble, labirinto de mais de 12 hectares de pedras e árvores, observá-los é ainda mais interessante porque, de acordo com o site oficial do parque, fica na Rota Atlântica, trilha migratória que as aves seguem na primavera e no outono.

Casal passeia de barco perto da Loeb Boathouse, no Central Park - Piotr Redli­nski/The New York Times - Piotr Redli­nski/The New York Times
Casal passeia de barco perto da Loeb Boathouse, no Central Park
Imagem: Piotr Redli­nski/The New York Times

Caminhando pela área verdejante, é fácil se esquecer de que praticamente toda essa parte do parque foi feita pelo homem e a água da fonte pode ser aberta ou fechada como se fosse da torneira (para quem chegar mais tarde, o Central Park Conservancy oferece kits com binóculos, mapas, um guia e materiais de desenho/anotação que pode-se pegar emprestado, sem custo nenhum, no Castelo Belvedere).

10h - No meio da floresta
Nos dias de sol, os vastos gramados do Central Park ficam lotados. Se quiser um pouco de paz , vá para North Woods. Só tenha cuidado porque a área é densa e bem isolada. Ao mesmo tempo, os 36 hectares de flores selvagens, árvores, uma ravina e até cachoeira dão um clima de interior. Esse bosque (outro bom local para observação de pássaros) foi criado a princípio para esconder o perfil dos prédios e abafar o barulho da cidade com o da água corrente. E é o que acontece.

Não é à toa que o mágico David Copperfield disse que é para lá que vai quando quer desaparecer. Não se esqueça de dar uma espiada na Pool, onde os patos fazem ninhos nas margens, sob os chorões. Mais ao norte, em Harlem Meer, você pode se divertir com o pesque e solte.

13h - Menu degustação
Quando estiver a fim de almoçar, vá para o Trump Hotel Central Park e o Nougatine, o "irmão" elegante, mas casual do Jean-Georges. Aqui, o menu de almoço a preço fixo de Jean-Georges Vongerichten (US$38) muda com a estação, mas sempre inclui uma entrada, prato principal, como salmão assado com creme de milho e salada de tomate cereja ou frango orgânico com nhoque de ricota, cenouras e vagem, e sobremesa (o bolo de chocolate morno com sorvete de fava de baunilha é imperdível).

15h - De olho nas estrelas
Ao lado do Museu Americano de História Natural há uma esfera gigante em uma caixa de vidro: é o Centro Rose para a Terra e o Espaço. Poucas opções em um dia chuvoso são melhores que admirar as estrelas e galáxias durante o show do Planetário Hayden ou ver um filme sobre a natureza no Imax. Por falar em museu, pare para se maravilhar com os fósseis dos dinossauros e deitar (não tenha medo, é legal) embaixo da baleia-azul de 28 m de comprimento e 9,5 toneladas de fibra de vidro pendurada no teto.

O Central Park é cercado por imponentes edifícios de Manhattan - Piotr Redli­nski/The New York Times - Piotr Redli­nski/The New York Times
O Central Park é cercado por imponentes edifícios de Manhattan
Imagem: Piotr Redli­nski/The New York Times

19h30 - E viva o jazz
Nos meses mais quentes é possível ver um show ou peça no parque ou ali perto, no Lincoln Center, mas em qualquer época é possível desfrutar do jazz degustando de comidinhas como o catfish po'boy (sanduíche de peixe-gato) (US$16) ou as costeletas grelhadas glaçadas no bourbon (US$24) no Dizzy's Club Coca-Cola. Parte do Jazz at Lincoln Center, esse clube aconchegante oferece mesas e banquetas no balcão, todas voltadas para os janelões imensos que ficam atrás dos músicos (tão perto que dá quase para tocar) de onde se vê o Central Park e as luzes da cidade.

22h - A saideira no parque
Recém-reaberto e mais rústico (imagine uma cabana de caça), o Tavern on the Green, na 67th Street com o Central Park West, tem um bar interno oval e lareira para afastar o frio das noites de outono. Se preferir algo mais romântico, visite a parte externa onde, sob as lanternas brilhantes, você pode bebericar coquetéis de nomes inspirados nos condados, incluindo Staten Island (rum Cacao Prieto, água de coco, suco de abacaxi e de limão, US$14).

DOMINGO

9h30 - Waffles e barcos a remo
Sim, fica lotado de turistas, mas a Loeb Boathouse, inaugurada em 1954, vale a visita. Afinal, quantas chances se tem de degustar waffles com xarope de bordo e compota de frutas vermelhas (US$16) admirando os barcos a remo deslizando em um lago no meio de Manhattan? Depois do brunch, aproveite para dar uma volta também (barcos a cerca de US$15/hora; é preciso deixar US$20 em dinheiro como depósito).

11h30 - Explorando o lado mais selvagem
Tigres, pandas vermelhos e uma jiboia verde são algumas das criaturas que você vai encontrar no Zoológico do Central Park. Há sessões de alimentação de pinguins e leões marinhos, um zoológico infantil com trilha natural e um cinema 4D. Ele é minúsculo comparado ao do Bronx, mas nada mais delicioso para encerrar o fim de semana em uma verdadeira selva urbana.