UOL Viagem

09/03/2009 - 07h00

Com novos hotéis, Phuket renasce na Costa de Andaman após tsunami

GREGORY DICUM
New York Times Syndicate
Eu não estava longe da praia -apenas além das ondas que quebravam gentilmente. Meus pés tinham deixado o fundo de areia e a água borbulhava ao redor dos meus ombros. Uma águia-pescadora voava entre mim e o quente sol vespertino. A copa de um bosque de coqueiros delineava a praia. Como um arco de açúcar, ela se estendia até um aglomerado de rochas arredondadas e, além, uma elevação de verde que levava até as montanhas cheias de moitas de um parque nacional.

  • Justin Mott/NYT

    Piscina do Anantara Phuket, um dos novos resorts mais proeminentes da Costa de Andaman, Tailândia


Eu estava flutuando no Mar de Andaman em Khao Lak, no sudoeste da Tailândia. Um paraíso de mangues, ilhas tropicais e enseadas esmeraldas situadas em águas azuis, a Costa do Andaman é um dos destinos praianos mais conhecidos do mundo. Ela inclui a ilha-província de Phuket, a espetacular pequena ilha de Ko Phi Phi, a empolgante praia Rai Le e a mais tranqüila Khao Lak. Suas opções de férias variam de algumas das acomodações mais luxuosas do planeta e hotéis simples com preços para as rendas modestas de famílias européias e asiáticas de classe média, até áreas naturais intocadas com acesso apenas para aqueles dispostos a se aventurar. A área é lendária pelos seus ricos recifes de coral, cavernas e rochedos arredondados cobertos de verde que se erguem do mar na Baía de Phang Nga.

Mas a brisa levemente úmida da Costa do Andaman também carrega um eco de ameaça. No final de 2004, esta praia em Khao Lak estava repleta de corpos e escombros. Cenas marcantes e horríveis se espalharam pelo mundo quase com a mesma velocidade daquilo que as causou, o grande tsunami. Ao todo, o desastre matou um quarto de milhão de pessoas, mais de 8 mil pescadores e aldeões tailandeses e mais de 2 mil estrangeiros de 16 países. A ONU estimou que cerca de 150 mil pessoas na Tailândia perderam seu ganha-pão na pesca e turismo naquela manhã de dezembro.

Eu visitei esta parte da Tailândia em outubro, pouco antes do início da temporada de turismo, visando avaliar a recuperação da costa. O que encontrei foi uma costa tranquila com poucos sinais do desastre. Em vez disso, ela tinha um clima de expectativa que qualquer área popular de turismo tem pouco antes da alta temporada. A praia de Khao Lak estava vazia e poucos turistas estavam por perto, mas os resorts sob sombras de palmeiras estavam impecáveis e ocupados com os preparativos da pré-temporada. Por toda parte onde estive na Costa do Andaman eu ouvi o ritmo de martelos ocupados e o cheiro de tinta fresca.

As estatísticas da Autoridade de Turismo da Tailândia apóiam a impressão de uma recuperação física plena do setor de turismo, e pelo menos até a incerteza política e a atual crise econômica global provocarem uma queda no número de visitantes, também uma recuperação econômica. Fora Khao Lak e Ko Phi Phi que, respectivamente, perderam 75% e 60% de seus hotéis, grande parte da Costa do Andaman foi poupada da devastação completa. Os hotéis foram remobiliados e reparados, e após os turistas voltarem em grande número em 2006, um vigoroso boom de construção teve início. Apenas em 2007, o número de quartos de hotel em Phuket aumentou um décimo, contribuindo para um aumento de 11% no número de visitantes à ilha, para mais de cinco milhões, ou mais do que em qualquer ano antes do tsunami. Em 2008, mais novos hotéis foram construídos. Para os viajantes dispostos e que possuem o dinheiro para chegar lá, esta costa é novamente um local convidativo para uma estadia.

  • Justin Mott/NYT

    Praia de Khao Lak, a mais tranquila da Costa de Andaman


A área de Khao Lak, que sofreu grande parte da pior devastação na Costa do Andaman, agora conta com um conjunto discreto e imaculado de resorts que atraem famílias de todo o mundo, especialmente do Norte da Europa. Em vez de uma vida noturna barulhenta como a de Patong, no sul de Phuket, ou os rochedos íngremes impressionantes como os de Rai Le, no leste, o encanto de Khao Lak está em sua longa praia serena aos pés de uma cadeia de montanhas densamente florestadas.

Apesar de manter sua vibração agradável, os novos hotéis estão mudando as coisas: Khao Lak agora conta com mais hotéis de luxo do que antes, com resorts mais novos se juntando aos reconstruídos como o Le Meridien Khao Lak, que parece ter superado os rumores de que ficou mal-assombrado após o desastre. Eu encontrei poucos sinais do tsunami, um terreno vazio aqui e acolá, e algumas árvores com raízes expostas e galhos retorcidos em pontos alarmantemente altos de seus troncos. A cidade, uma faixa de lojas, restaurantes e escritórios de operadoras de turismo em caixas de concreto utilitárias, era movimentada apesar de nada inspiradora.

Enquanto o sol mergulhava magnificamente no Mar de Andaman, eu me sentei à uma mesa de bambu à beira-mar. Eu enterrei meus dedos na areia quente como um caranguejo e acompanhei um curry verde bem temperado com uma garrafa grande de (cerveja) Chang Beer. Enquanto o céu escurecia, alguém nas proximidades soltou um balão de papel impulsionado por uma vela. Ele subiu lentamente, ao final ocupando seu lugar como uma estrela laranja entre as constelações.

No dia seguinte, atrás da cidade, eu encontrei evidências claras do tsunami. Um pequeno parque verdejante cerca um barco policial incongruente que foi levado até lá, a 1,5 quilômetro do mar, pela onda. O barco escoltava um príncipe tailandês que morreu no desastre, e se tornou um local de lamentação e lembrança.

Certamente, todos que sobreviveram têm lembranças vívidas. Meu motorista em Phuket, Marn, me contou que 10 membros de sua família morreram no tsunami. Mas o barco abandonado, e uma escultura abstrata próxima, pareciam esquecidos. Alguns poucos estrangeiros caminhavam ao redor do casco cinza sob uma garoa quente, balançando a cabeça.

Se há algum grande monumento físico ao desastre, ele é a própria reconstrução da costa.

"Ela está de volta, mais forte do que era antes do tsunami", disse Bill Heineke, um proprietário do grupo hoteleiro Anantara, que nasceu no norte da Tailândia e agora possui nove resorts ao redor da Ásia. O hotel do Anantara em Khao Lak foi destruído pelo tsunami, mas em outubro o grupo abriu um novo em Phuket.

  • Justin Mott/NYT

    Windsurf é um dos atrativos de Phuket, a ilha tailandesa que renasce após o tsunami


Mas a economia da área está à mercê de mais do que as incríveis forças da natureza. Enquanto eu caminhava pela praia, novos problemas estavam surgindo. O colapso da economia global é um duro golpe para todas as regiões que dependem da renda disponível dos países ricos. Enquanto isso, crescem as tensões domésticas à medida que a complexa política da Tailândia passa por um período particularmente intransigente. Manifestações políticas em novembro fecharam ambos os aeroportos de Bancoc por dias, retendo mais de um terço de milhão de viajantes.

Em uma indicação de quão importante é o turismo para a região, o governo de Phuket forneceu ajuda generosa para os visitantes retidos (da mesma forma como muitos visitantes ajudaram heroicamente após o tsunami). Mesmo após a reabertura dos aeroportos de Bancoc, disse Nick Davies, o editor administrativo do jornal "The Phuket Gazette", a chegada de turistas a Phuket caiu pela metade. Em dezembro, em consequência dos problemas mundiais, um grupo de operadoras de turismo fez um apelo ao governador de Phuket por perdão de suas dívidas.

Mas o mar permanece leve e calmo e o ar toca a sua bochecha como um beijo. Da sacada do meu pequeno bangalô no hotel Baan Krating, em Khao Lak, onde palmeiras e árvores verdejantes se agarravam ao rochedo atrás de mim, se erguendo sobre rochas parecidas com ovos banhadas nas águas transparentes abaixo, não havia nenhum sinal de problemas.

Com os negócios na Costa do Andaman sofrendo devido à recessão mundial, tirar umas férias na praia é uma das melhores formas dos estrangeiros ajudarem. E não precisam temer: as crises políticas na Tailândia quase nunca afetam os visitantes e as tensões diminuíram, o que torna um novo fechamento dos aeroportos improvável.

Na verdade, este é um ótimo momento para ir à Costa do Andaman. Em anos normais, as praias podem ficar lotadas, com tantos mergulhadores com equipamento snorkel quanto peixes, ou com turistas queimados de sol disputando por um lugar para bater uma foto de um cenário que apareceu em "007 Contra O Homem Com A Pistola De Ouro" ou "A Praia", que foram em parte filmados ali. Mas com a queda do turismo (os nervosos turistas asiáticos estão evitando viajar em grande número, apesar dos norte-europeus ainda permanecerem inabaláveis), praias normalmente lotadas terão mais espaço, às vezes até a solidão ideal, muitas vezes imaginada, mas longe da realidade, de férias em uma praia tropical.

E pechinchas são fáceis de encontrar. Casas de luxo à beira da praia nos principais resorts podem ser reservadas online no último minuto por centenas de dólares abaixo de seu valor habitual. Enquanto eu estava lá, eu encontrei uma à beira-mar no Ramada Resort, em Khao Lak, por uma diária abaixo de US$ 150, quase três quartos abaixo do preço padrão.

Na extremidade de alta renda, os novos hotéis estão competindo para elevar o luxo a novos níveis, combinando estilo global com hospitalidade tailandesa e esplendor tropical em vilas privadas com vista para praias cristalinas, mimo por funcionários atenciosos, massagem tailandesa profundamente relaxante, comida internacional de alta qualidade e um senso de afastamento esplêndido das adversidades do mundo. O Yamu, um novo hotel de alto luxo que deverá ser inaugurado ainda neste ano na Baía de Phang Nga, promete luxos incluindo um quarto de chocolate; interiores de Philippe Starck e do arquiteto de hotéis de luxo Jean-Michel Gathy; e para músicos viajantes que gostam de misturar trabalho com prazer, um estúdio de gravação.

Um dos novos resorts mais proeminentes, o Anantara Phuket, aberto em outubro na praia de Mai Khao no extremo norte de Phuket, fica a um mundo de distância dos jet skis e guarda-sóis da praia de Kata, ao sul. (Jet skis são proibidos em Mai Khao para proteger as tartarugas que ali põem ovos.)

O resort fica situado ao longo de um lago artificial, imitando uma aldeia tailandesa tradicional. Altos telhados de madeira se erguem acima das vilas muradas, cada uma incluindo sua própria pequena piscina e áreas para sentar ao ar livre ou cobertas, completas com grandes "daybeds" (camas diurnas) para curtir massagens tailandesas. Um telhado de teca escuro e uma escadaria envolvendo uma figueira de bengala levam a um bar no topo da árvore, com um amplo terraço, cortinas de contas de fibra óptica que balançam com a benevolente brisa marítima e sofás macios para contemplar o entardecer com uma margarita na mão.

  • Justin Mott/NYT

    A praia de Khao Lak é um paraíso para os mergulhadores


Os próprios quartos são perfeitamente projetados, com grandes portas de correr deslizantes abrindo diretamente para piscinas cintilantes, e com grandes banheiras inseridas dentro da água, separadas por uma partição de vidro.

Neste paraíso encasulado, os problemas do mundo se intrometem ligeiramente: um dia após o confronto das tropas de choque da polícia com manifestantes em Bancoc, a manchete do "Bangkok Post" dizia: "À Beira da Anarquia!"

Talvez. Mas aquele era o único sinal daquilo.

Como chegar



A Bangkok Airways e a Thai Airways fazem o voo de uma hora entre Bancoc e Phuket por cerca de US$ 150.

Onde ficar


A Costa do Andaman da Tailândia é lar de centenas de resorts à beira-mar, com todo tipo de preço. Desde o tsunami de 2004, os resorts mais antigos que foram danificados foram reformados ou reconstruídos, e novos resorts abriram em todas as grandes áreas turísticas. Muitos dos hotéis oferecem preços especiais nesta estação (os dados são preços-padrão).

Em Khao Lak, no continente, o Le Meridien Khao Lak (www.starwoodhotels.com/lemeridien) foi reconstruído após o desastre e emana um charme e graça régios que sugerem uma fantasia imperial. As vilas com garçons custam a partir de US$ 520. (São aceitos dólares; o dólar está cotado a 35 bahts, a moeda local.)

Novos hotéis abriram nos últimos dois anos:

O Ramada Resort Khao Lak (59 Moo 5, Tumbon Kukkak, Takuapa District, Phang Nga; 66-76-42-7777; www.ramadakhaolak.com) tem 84 quartos de luxo, incluindo oito vilas à beira-mar, que custam a partir de US$ 700. As diárias dos quartos regulares partem de US$ 300 na alta estação.

O Anantara Phuket (888 Moo 3, Mai Khao Subdistrict, Thalang District, Phuket; 66-76-33-6100; www.anantara.com). As diárias das vilas com piscina custam a partir de US$ 1.088.

A Village Coconut Island (Coconut Island, 66-76-239-724; www.thevillage-coconutisland.com.) é uma coleção de vilas de luxo em uma pequena ilha além da costa dleste de Phuket, na Baía de Phang Nga. Ele tem uma obrigatória piscina infinita (sua borda desaparece no azul do mar e no céu azul, mais maravilhoso do que a cor de qualquer piscina), e atividades com mergulho com scuba, iatismo e pesca. As grandes vilas, a maior com cinco quartos, têm seus próprios jardins diante de suas próprias piscinas infinitas e custa US$ 2.896 por noite na alta temporada, metade disso na baixa temporada.

Também em Phuket, o Indigo Pearl (www.indigo-pearl.com), projetado por Bill Bensley, o arquiteto baseado em Bancoc e principal responsável pela definição do estilo de luxo do Sudeste Asiático contemporâneo, é elegante, confortável, com toques do passado colorido de Phuket: teca escura e telhados com picos são compensados por trechos limpos de paredes de blocos brancos. As diárias dos quartos custam a partir de US$ 287.

O Sri Panwa (www.sripanwa.com) fica em uma floresta suntuosa na ponta sul de Phuket, adjacente a um aglomerado de pequenas ilhas. As grandes vilas situadas em gramados se projetam de encostas acima do mar. Na temporada, as diárias custam a partir de US$ 1.610.

O SALA Phuket (www.salaphuket.com), que abriu em 2008, funde audaciosamente os detelhes sino-portugueses locais do século 19 com linhas limpas e grandes espaços abertos. Casuarinas sussurram na brisa que vem do sempre presente Mar de Andaman. Quartos a partir de US$ 490 na temporada.

O Aleenta (www.aleenta.com), entre Khao Lak e Phuket, emana o ar bacana e confortável de hotel butique internacional com suas linhas acentuadas, quartos espaçosos e bom projeto. As vilas à beira-mar custam US$ 1.645 na temporada.

O que fazer


Ficar relaxando na praia pode ser suficiente, mas a área também oferece todo tipo de atividade ao ar livre, de mergulho com scuba e caminhadas na floresta até escalada dos rochedos e passeios de elefante.

O memorial mais contemplativo do tsunami em Khao Lak fica na Soi Rua Tor 813, onde descansa um barco policial. Há um pequeno museu ao lado (200 bahts, cerca de US$ 5,70, é a doação sugerida).

Tradução: George El Khouri Andolfato

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